Compilação
Estava em Paris um primo de Calvino, que se havia unido aos reformadores. Os dois parentes muitas vezes se encontravam, e juntos discutiam as questões que estavam perturbando a cristandade. "Não há senão duas espécies de religiões no mundo,"dizia o protestante Olivetan. "Uma é a espécie de religiões que os homens inventaram, e em todas as quais o homem se salva por cerimônias e boas obras; a outra é a religião que está revelada nas Escrituras e ensina o homem a esperar pela salvação unicamente da livre graça de Deus.
"Não quero nenhuma das tuas novas doutrinas" exclamou Calvino; "achas que tenho vivido em erro todos os meus dias." No espírito, porém, haviam-se-lhe despertado pensamentos que não se podia livrar de todo. Sozinho em seu quarto ponderava as palavras do primo...
Enquanto ainda empenhava-se nessas lutas infrutíferas, Calvino, visitando casualmente uma das praças públicas, testemunhou ali a queima de um herege. Ficou deveras maravilhado ante a expressão de paz que se esboçava no semblante do mártir. Entre as torturas daquela morte cruel, e sob a mais terrível condenação da igreja, manifestou uma fé e coragem que o jovem estudante dolorosamente contrastou com o seu próprio desespero e escuridão, embora vivesse em estrita obediência à igreja. Na Bíblia, sabia ele, fundamentavam os hereges a sua fé. Resolveu estudá-la e descobrir, se o pudesse, o segredo da alegria deles.
Na Bíblia achou Cristo. "Ó Pai," exclamou ele, "Seu sacrifício apaziguou Tua ira; Seu sangue lavou minhas impurezas; Sua cruz arrostou minha maldição; Sua morte fez expiação por mim. Imaginamos para nós muitas tolices inúteis, mas Tu colocastes a Tua Palavra diante de mim como uma tocha, e tocaste-me o coração, a fim de que eu abominasse todos os outros méritos, com exceção os de Jesus." O Grande Conflito, 217,218.