
Ouvidos Para Ouvir
- Em: Família
- Por: Redação CrescerMais
É interessante a capacidade seletiva de alguns órgãos do corpo humano, como o ouvido, por exemplo. Paganini conseguia perceber que algum determinado instrumento havia semitonado, em meio a uma orquestra inteira. Às vezes, nos afazeres diários, alguém nos diz alguma coisa e simplesmente não ouvimos. Quem sabe respondemos com um “han han” distraído e mais tarde teimamos que nada nos foi dito. Porque naquele momento alguma outra coisa interessava mais ao nosso cérebro e ele preferiu não ouvir. Por esse motivo Jesus destacou a importância de prestarmos atenção à Sua mensagem de amor à humanidade, acima de quaisquer outros interesses terrenos!
Era o início do ano 2014 e nossa família havia viajado para passar os dias festivos com os parentes no Rio de Janeiro, próximo à cidade de Cabo Frio. Geralmente costumamos viajar para ali em Janeiro e agora havia um atrativo a mais, pois meu cunhado havia trocado sua casa por outra com um terreno maior, e melhor localizada.
Quando ali chegamos, alguns dias antes do Ano Novo, ficamos contentes ao ver o amplo terreno gramado nos fundos, pois havíamos trazido o Billy, nosso pequeno cão da raça Lhasa apso, que logo começou a explorar o novo ambiente. Só havia um problema: o terreno terminava em um rio caudaloso e muito largo, chegando a ter mais de 300 m de largura. E como o proprietário anterior havia tentado construir um pequeno cais, não havia muro de proteção, mas só uma mureta bem baixinha. E o Billy se interessou muito em saber o que vinha depois daquela mureta, correndo risco de cair no rio. Além disso, logo no primeiro dia deu um jeito de prender a pata no gancho da coleirinha e se machucou um pouco. Assim, tivemos que dar um jeito de prendê-lo na varanda dos fundos, saindo apenas quando alguém estivesse livre e pudesse vigiá-lo.
Logo chegou o último dia do ano e o momento da queima de fogos. Já havíamos recebido o novo ano ao por do sol e os familiares saíram para ver a queima de fogos em algum lugar enquanto eu, minha esposa, minha sogra, e meu filho Felipe ficamos em casa.
Um pouco antes da meia-noite tiramos o Billy do cercado improvisado para que ficasse perto de nós, já que sempre ficava com muito medo quando alguém soltava fogos por perto. Por ali ainda fazíamos alguma coisa enquanto nos preparávamos para sair para o quintal. Quando os fogos começaram, nos preocupamos em ter o Billy bem perto de nós, porque ele fica realmente apavorado! Mas, agora, cadê o bichinho? Achamos que se houvesse escondido em algum canto da casa e começamos a procurar, chamando pelo seu nome. Mas cadê esse danado? Da casa passamos para o quintal, procuramos em cada canto. Onde se meteu esse bicho? Minha esposa começou a ficar apavorada com a ideia de que ele pudesse ter caído no rio. Olhamos no rio várias vezes. Olhamos na rua, em algum terreno vizinho. Pus a escada sobre o muro em ambos os lados do terreno e olhei para as propriedades vizinhas. Nada!
A essa altura estávamos realmente preocupados e minha esposa visivelmente nervosa. Afinal o Billy já está conosco há bastante tempo, já é um membro da família. O compramos em Curitiba, com poucas semanas de nascido, no final do ano 2000. Portanto o Sr. Billy tem já mais de 13 anos, o que seria uns 80 da raça humana. Sabemos que não vai muito longe, mas terminar dessa maneira, afogado em um rio em um dia de passeio! Certamente seria o fim das nossas férias. Não ia dar pra ficar mais ali. Especialmente para a minha esposa, que por ficar em casa um pouco mais que os demais se apegou ainda mais ao nosso mascote.
À medida que o tempo passava ficava cada vez mais evidente que nossa causa estava perdida. Não tinha mais como. O animal certamente havia se afogado no rio. Não havia mais o que fazer. Era aceitar o inevitável. Minha esposa continuava a gritar pelo nome do Billly e olhava em direção ao rio, enquanto eu e meu filho procurávamos consolá-la. Não adiantava mais. Era uma coisa insana agora olhar para o rio e gritar. ELE NÃO ESTAVA MAIS ALI! Se foi. Fazer o quê? Se foi.
Enquanto procurávamos, cada um de nós orava. Mas sabemos que neste mundo caído existem situações em que simplesmente temos que nos resignar, fazer o quê? Minha esposa continuava a gritar em vão. Eu já havia desistido de procurar no rio. Percebi que para o lado direito, depois do terreno vizinho havia outra propriedade onde uma família comemorava junto a um pequeno cais. Pus a escada sobre o muro de novo, chamei a atenção deles e contei o acontecido. Atenciosos fizeram uma busca ao redor do cais e no trecho de rio do terreno deles. Ele não estava ali.
Já se havia passado meia hora. A menos que tivesse sido levado pela correnteza e saído do rio mais à frente, não havia mais opção. Abracei minha esposa sem dizer nada enquanto ela chorava. Fazer o quê?
Pensamos então de fazer o que ainda se podia fazer. Pegar o carro, descer um pouco o rio, olhar nos terrenos baldios, perguntar a alguém que estivesse na frente da casa ou algo assim, já que todas as casas ali tem um terreno que dá para o rio. Mas sabe quando você faz alguma coisa só por “desencargo de consciência” sabendo que não tem mais jeito? Mas, para atender à minha esposa, para que não ficasse nada por fazer para salvar o Billy, tá bom, vamos lá.
Entrei no banheiro me preparando para sair, enquanto minha esposa mais uma vez, de forma insana, fez o que já havia feito várias vezes nos últimos quarenta minutos: chamar pelo Billy! Meu filho buscava afastá-la daquele lugar. Não adiantava mais ficar ali. Era descer o rio para fazer uma última tentativa... para não dizer que não se tentou ainda alguma coisa.
De repente, meu filho viu alguma coisa, como uma garrafa grande de pet, a certa distância em direção ao meio do rio. Sem falar nada correu em casa e pegou uma lanterna. Ao voltar, já estava mais perto da margem. Não deu para distinguir bem o que era, mas ele se atirou no rio e retirou o bichinho dali. Exausto. Gelado. Ofegante. Mas, vivo! Era inacreditável!
No banheiro, enquanto me arrumava para sair, desolado, “lutava com Deus”. “Oh, Senhor, eu sei que esse bichinho não vai durar muito, mas, aqui? E desse jeito?”.
De um momento a outro começaram a bater forte na porta do banheiro e gritar: Abre, abre. Ao abrir, incrédulo, vi minha esposa, minha sogra, meu filho se precipitarem em direção ao chuveiro quente, com o Billy no colo de minha esposa. Saí da frente, rápido, senão passavam por cima de mim. “Não é possível. Não é possível, Senhor. Tu fizestes isto? Respondestes nossa oração!”.
O Billy dormiu toda a noite e metade do outro dia. Não quis beber água (com certeza já havia bebido bastante) e não comeu. Com certeza estava exausto. Super exausto. Durante algum tempo não conseguia ficar em pé direito. Se inclinava, arriava para um lado, meio bambo. Ficava deitado. Mas é realmente fantástico. Esse velhinho com artrite, meio cego, meio surdo e com a pata machucada, ficou na água durante 40 minutos nadando! Quando meu filho o viu ele estava vindo da direção do meio do rio!!! E só voltou porque ouviu a voz de minha esposa que o chamava. Em meio à escuridão da noite, o som dos fogos e o cansaço que o paralisava, ele voltou, guiado pela voz de minha esposa.
De tudo isso, com certeza, podemos tirar algumas lições.
Eu gostaria agora de dizer aos pais: Não desistam de vossos filhos. Continuem clamando, continuem chamando. Continuem orando. Continuem lutando pelos vossos filhos. Ainda que pareça insano. Ainda que pareça um caso perdido.
Gostaria de dizer aos pastores: Não desistam de nossos jovens! Não se cansem de clamar, de chamar, de repetir. Talvez nem todos voltarão. Mas alguns serão tocados, alguns serão atraídos, alguns serão guiados pela voz que os chama com amor. E voltarão.
Professores: Não desistam de seus alunos. Ensinem-lhes a ler, a escrever e a contar, mas, sobretudo, sobre o amor de Deus. Na prática.
Como dissemos, o ouvido é seletivo. Pode escolher ouvir. Pode escolher não ouvir. O Grande Pastor ainda está chamando. Não se cansa de chamar. Não desiste nem desanima. Não se intimida com negativas. Não conhece o impossível. Em meio à voragem da noite. Por abismos e atoleiros. Por lugares perigosos. Em meio a uma grande cidade. Alguns ouvirão. Alguns retornarão. Alguns virão ao Seu encontro. Serão abraçados. Serão aquecidos. Serão salvos, eternamente salvos.
Agora, gostaria de me dirigir aos jovens. E aos irmãos que estão fora, aos que lutam com tremendos problemas, aos que acham que não tem mais jeito, que não adianta mais insistir: Deus é Deus. Ele faz milagres! Mas é preciso ouvir Sua voz. Deixar-se atrair por Seu amor. Permitir que Ele opere em você a salvação. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” – Mateus 13:9.
Por: Pr. Emilsom Motta