
Introdução
E Jesus chorou...
Há quem diga que chorar não ajuda em nada. Mas talvez o choro seja uma das maiores demonstrações de humanidade que podemos expressar. Choramos quando experimentamos sensações extremas: tristeza exagerada, alegria intensa, dor muito forte, saudade massacrante. Mas o choro também está associado a situações em que sentimos que somos impotentes; Em momentos assim parece que choramos quando não sabemos mais o que fazer da vida. Porém, nem tudo o que termina em lágrimas, é triste e sombrio. E talvez um dos melhores momentos da vida para entendermos isso, seja a hora do parto; A mãe chora num misto de dor e alívio, alguns pais choram de alegria e o bebe chora porque está vivo. Sendo assim, além de cumprir funções emocionais diversas, chorar também cumpre seu papel na biologia humana.
Segundo o relato bíblico, Jesus chorou três vezes: chorou ao pedir ao Pai que se possível fosse afastasse à cruz de sua experiência, chorou ao entrar em Jerusalém e ver o futuro trágico daquela cidade e chorou também por ocasião da morte de Lázaro. Se Jesus fosse apenas humano, eu diria que chorou de medo da morte, chorou por compaixão de uma cidade inteira e pranteou a morte de um amigo. Porém, Jesus não era apenas humano. Jesus era o Deus que sabe o fim desde o princípio, que tem poder sobre tudo e que é amor. E foi por ter certeza sobre essas características de Jesus, que Marta e Maria mandaram um recado a Ele dizendo: “Senhor, o amigo a quem você tanto ama está muito doente”. Em outras palavras Marta e Maria estavam querendo dizer: Jesus, nós sabemos que você pode fazer algo por nosso irmão, então corra enquanto ainda dá tempo! Porém, o relato bíblico nos mostra que aparentemente Jesus não deu muita atenção ao recado. E sabem por que Jesus não foi ate a casa de Lázaro no mesmo instante? A resposta está em João 11.4 que diz: “... O propósito da doença de Lázaro não é a morte, mas a glória de Deus, para que o filho de Deus seja glorificado por meio dessa doença”. Jesus não foi imediatamente resolver a situação porque tinha total controle sobre tudo o que estava acontecendo.
Agora quero que você se imagine no lugar de Jesus. Tenho algumas perguntas pra você: Jesus, porque você chorou numa situação em que tinha total controle? Porque chorou se tinha poder para ressuscitar? Se já sabia o que iria acontecer? Se já tinha visto aquela cena antes? Porque chorou se ainda demorou em vir? Ao analisar essas e outras perguntas, concluo que nessa ocasião Jesus chora sem precisar fazê-lo... Então porque Jesus chorou?
Bem, o único motivo bíblico plausível e lógico para as lágrimas de um ser tão poderoso, que chora mesmo sem ter necessidade alguma de fazê-lo, seja a graça. É por isso que talvez não seja a toa que “Jesus chorou” seja o episódio bíblico mais lembrado pelas crianças cristãs. “Jesus chorou” traz em cada uma de suas letras a expressão máxima da divindade: Graça imerecida. Hoje quero convidar a você que chora por algum motivo específico, a abrir sua bíblia comigo e a buscar nas lágrimas de Jesus, conforto, paz e esperança para sua vida.
Porque Jesus chorou?
Jesus chorou por que...
1) Viu Maria chorar...
“Quando Jesus viu Maria chorar...” João 11.33
Durante o tempo em que atuei como missionário distrital, confesso que nunca soube como me comportar num velório. Apesar de todas as regras de etiqueta funeral, de todas as orientações que se aprende no seminário, lidar com o sofrimento causado pela morte é algo imprevisível. Não sei se falo, ou se fico quieto. Não sei onde colocar as mãos ou onde olhar. Não sei se devo consolar com os familiares ou se devo deixalos descansar do luto. E como nunca perdi um familiar próximo, não sei a intensidade da dor emocional que sentem os familiares que ficam. Porém na maioria das vezes em que presenciei um funeral, a parte mais difícil foi ver as lágrimas de quem fica; Essa parte mexe muito comigo. Ainda mais se quem ficou faz parte do meu círculo social. Com Jesus não foi diferente. Segundo a primeira parte de João 11.33, o primeiro gatilho acionado que culminou nas lágrimas de Jesus foi o fato de ter visto Maria chorando.
O relato bíblico não menciona o início da amizade entre Jesus e Maria. Mas no verso dois do capítulo 11, João nos dá uma pista importante sobre a amizade dos dois: “Maria sua irmã, era aquela que derramou o perfume caro nos pés de Jesus, e depois enxugou-os com os cabelos”. Você se lembra da cena não é? Os homens estavam no círculo central do ambiente, de repente Maria entra no meio deles e sem falar nada ou se justificar, unge Jesus. Porém uma das grandes provas da consideração de Jesus pela atitude de Maria está descrito em Mateus 26.13: “Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua”.
Quando o assunto é a Maria que ungiu Jesus, existe entre os teólogos, uma divergência de informações sobre quem seria essa Maria. Relatando a unção de cristo por certa mulher, Mateus e Marcos citam a cidade, mas omitem o nome e a profissão da tal mulher; Lucas omite o nome dela e a cidade, mas cita que era uma prostituta; João trás o nome da mulher e a cidade, mas omite a profissão. A grande questão entre os teólogos é: Mateus, Marcos, Lucas e João estavam falando do mesmo episódio ou não? Estudar sobre o tema vai ficar para dever de casa para vocês. Não vamos nos ater a isso. Se Maria irmã de Lázaro era prostituta ou não, isso não faz a menor diferença para o grau de amizade que existia entre Jesus e ela. E se eram amigos próximos, como a bíblia diz, o impacto de vê-la chorando e sofrendo foi muito forte para Jesus. Com isso eu aprendo que quando os amigos de Jesus sofrem, Ele sofre também. Jesus chorou não porque ele não conseguia resolver a situação. Jesus chorou não porque ele não sabia o que fazer. Mas Jesus chorou porque viu um amigo seu chorando.
Quem aqui se considera amigão de Jesus? Os que são parceiros de Jesus vão lembrar que a bíblia o apresenta como poderoso e amor. Se ele é poderoso e te ama, pode te ajudar em qualquer momento difícil de sua vida. Sim Jesus tem poder para fazer tudo por você. Porém existirão momentos, em que Jesus apenas sentará do seu lado e chorará. E nesses momentos talvez alguns vão pensar: “Jesus! Você chorando? Pensei que se você estivesse aqui comigo na hora certa, nada disso teria acontecido?”.
Amigo, quero te lembrar de algo que talvez tenhas esquecido. As lágrimas de Jesus não são a expressão vazia de um Deus que pode fazer, mas escolhe não fazer. As lágrimas de Jesus é o desabafar da alma, de um Deus que sente a intensidade emocional do sofrimento dos seus amigos. É por isso que Jesus chorou.
2) Viu os judeus chorarem...
“...e os judeus também...” João 11.33
Dois dias depois de ter recebido o recado de que Lázaro estava morrendo, Jesus chega para os discípulos e diz: Pessoal, Lázaro morreu, agora é a hora de irmos lá. Os discípulos se olham com um ar de: Que é que ele está fazendo?! Um dos discípulos olha para Jesus e diz: Pra que irmos lá?! Jesus, você já se esqueceu de que há poucos dias levamos um carreirão dos Judeus. Ate pedradas eles deram no Senhor. Olha aqui Jesus, ate agora estou com um hematoma na cabeça devido à pedrada daquele maldito fariseu! A essa altura do campeonato, Jesus não era bem vindo à Judéia, e Betânia era um povoado da Judéia.
Sobre o episódio do apedrejamento, João relata no final do capítulo dez que durante a festa da dedicação em Jerusalém, Jesus decidiu dar uma volta no templo. Porém já numa das entradas principais, um grupo de Judeus se aproximaram Dele e pediram para que parasse de suspense e que declarasse de uma vez por todas se ele era mesmo Deus ou não. Quando Jesus respondeu: “... o Pai está em mim, e eu estou no Pai.”, os judeus foram ao delírio e começou-se um tumulto dos grandes, e como o templo estava em reforma, os judeus pegaram as pedras destinadas à construção e começaram a jogar em Jesus e seus discípulos. Em sua descrição no capítulo 11.18, João faz questão de mencionar o motivo do medo dos discípulos: “Betânia ficava a cerca de três quilômetros de Jerusalém, e muitas pessoas vieram consolar Marta e Maria...”. Gente dá pra imaginar o medo dos discípulos em passar tão próximo ao local em que quase morreram linchados? O medo era tanto, que Tomé tinha certeza que iria morrer: “Vamos até lá para morrermos com o mestre”. Aquela ida a Betânia não era tão simples quanto nós imaginamos.
Amigos, eu tenho muita dificuldade de visitar quem declaradamente não gosta de mim. Você também é assim? Talvez todos sejamos assim. Gostar de quem não gosta de nós é uma tarefa difícil, pois requer maturidade e vulnerabilidade. E parecerse vulnerável na frente do inimigo declarado, é algo que foge da lógica humana. É por isso que frente a quem não gosta de nós, sempre ficamos na defensiva. Porém, além de ficarmos na defensiva, costumamos ignorar ou desprezar os sentimentos de quem não gosta de nós. É por isso que algumas pessoas deixam escapar dos lábios frases como: “Bem feito”, “Tomara que aprenda” ou “Ta pagando caro pelo que fez comigo”. Os rancorosos mais religiosos preferem dizer: “Eu sabia que Deus iria me vingar” ou então “Isso é Deus pesando a mão”. Se você é um desses rancorosos religiosos, quero te dizer que Jesus nos ensinou outra maneira de lidarmos com quem não gosta de nós.
Jesus poderia muito bem não ter ido naquele lugar de gente que odiava seu ministério. Jesus poderia ter poupado seus discípulos do desgaste emocional motivado pelo medo das pedradas dos judeus. Porém, mesmo sabendo de tudo isso, Jesus escolheu levá-los para uma aula prática de amor aos inimigos. E que aula heim! Tão intensa, prática e verdadeira, que quando Jesus viu os Judeus chorarem, ele chorou verdadeiramente também. Os discípulos devem ter entrado em paranoia ao ver Jesus chorando por sentir a tristeza dos seus inimigos. E é no verso 46, que João descreve o resultado daquela aula prática: muitos judeus creram em Jesus e outros tantos foram aos sacerdotes afirmar que a influência de Jesus na região era maléfica e que tinham que tomar uma postura.
Jesus chorou ao sentir o drama emocional vivido por quem o odiava.
3) Foi convidado a ver Lázaro morto
“Onde ele está sepultado?”, perguntou. Eles disseram: “Venha ver, Senhor”. João 11.34
Com certeza você já deve ter ouvido muita coisa sobre a história do brasileiro Alberto Santos Dumont. Mas talvez o que você nunca ouviu falar, é que no dia 23 de julho de 1932, ele não desceu para almoçar no hotel em que estava hospedado. Ao sentirem falta do ilustre hospede, os funcionários vão ate quarto 152 e constatam que o herói nacional estava morto. A causa oficial da morte? Colapso cardíaco. Porém os envolvidos na história espalharam outra versão para a morte do aviador: Suicídio. O então governador de São Paulo, Dr. Pedro de Toledo, não permitiu que fosse feito a autópsia do corpo. Não ficaria bem a um herói nacional, ter cometido suicídio. Hoje várias versões sobre o motivo da morte de Santos Dumont, circulam pelas mídias: paixão não correspondida, a disputa com os irmão Wrigt (Rúai), depressão e etc. A real causa do suicídio do aviador continua uma incógnita ate os nossos dias. Porém, há testemunhas que juraram ter visto a reação de tristeza de Santos Dumont ao presenciar um exercício militar com aviões bombardeiros. Segundo relatos dessas testemunhas, depois desse episódio, Santos Dumont entrou no seu quarto e só saiu de lá sem vida. Foi assim que surgiu a versão, que Santos Dumont se suicidou ao ver seu invento sendo usado para tirar vidas.
Tanto os gregos como os hebreus, chamariam essa inversão de valores no uso de algo, de: PECADO. Segundo os estudiosos das letras, a etimologia da palavra pecado está associada a: errar o alvo e/ou sair da rota. Ou seja, pecado é tudo o que deixa de cumprir seu papel planejado pelo inventor.
Ver nossa obra seguindo rumos que não planejamos é muito doloroso. Eu não consigo imaginar meu filho sendo preso pela polícia porque participou de um assalto. Eu não imagino meu filho indo parar no hospital porque teve um coma alcoólico ao beber com os amigos da escola. Não passa pela minha cabeça ver minha esposa recebendo a ligação de um vizinho dizendo que nosso filho foi assassinado por envolvimento com as drogas. Não sei o que sentiria, se uma coisa dessas acontecesse com meus filhos. Porém, sei que não sou o único que treme ante a possibilidade de que algo ruim aconteça com minha obra. Sei que você também sofreria bastante se fosse convidado a ver o filho que tanto ama em estado de putrefação.
“Venha ver Senhor onde lázaro está enterrado”. Você consegue imaginar o tamanho da dor que sentiu o criador de todas as coisas ao ser convidado a ver o estado em que Lázaro estava? É aqui que Jesus realmente desaba e não esconde seus sentimentos. É aqui que Jesus chora intensamente ao ver no que sua maravilhosa obra havia se tornado. Aquele amigo que sorria e contava histórias, já não existia mais. Aquela família unida no propósito evangelística, agora estava incompleta. Aquela casa alegre que sempre o esperava com uma boa cama e água fria para lavar os pés, agora estava triste. Aquele boneco de barro que ele criou com tanto carinho e cuidado, agora era apenas um amontoado de células inanimadas. Aquele ser que flutuou na barriga da mãe por nove meses e que foi tão querido por tantos, agora era apenas um monte de carne morta e que cheirava mal. Jesus chorou ao ver o resultado do pecado na trajetória de sua criação, e essas lágrimas estão registradas na história de lázaro e suas irmãs.
Quando você erra o alvo, Jesus também chora por você.
Conclusão
Bem. É isso...
Quando alguém te perguntar por que Jesus chorou, quero que você se lembre do que a bíblia te ensinou aqui hoje:
Jesus chorou porque viu seus amigos sofrendo.
Jesus chorou porque viu seus inimigos chorando.
Jesus chorou porque viu sua obra sem vida.
Mas sabem o que mais é mais apaixonante na história de Lázaro? É que nessa história, é possível ver as duas naturezas de Jesus. A natureza humana que sentiu receio de entrar na cidade judia e chorou ao ver o sofrimento dos que ficaram, e a natureza divina que gritou para todo o mundo ouvir: Lázaro vem para fora!
Apelo
Se você estiver buscando lógico humana nas lágrimas de Jesus, não vai encontrar nada além de graça e favor imerecido.
Jesus chorou por você que declara seu amor por ele.
Mas Jesus também chorou por você que escolheu virar as costas para ele.
Quem é você nas lágrimas de Jesus?
Por Walter Vinícius