“Conheço um homem em Cristo”, disse Paulo, referindo-se a si mesmo, “que há quatorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao Paraíso; e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar” (2 Coríntios 12:2-4).
Paulo tinha recebido uma revelação acerca do Paraíso, que se encontra no terceiro céu. Ele, porém, não estava certo se tinha sido arrebatado para ali em pessoa, ou se o Paraíso lhe fora mostrado em visão, mediante um arrebatamento de sentidos. À primeira hipótese ele se refere com as palavras “no corpo”, e à segunda hipótese com as palavras “fora do corpo”.
Os imortalistas citam estas passagens em apoio à crença na existência, em estado desincorporado, de uma suposta entidade consciente e imortal do homem, à qual dão o nome de alma ou espírito, entidade essa que, em realidade, não existe. Dizem que Paulo admitiu a possibilidade de ter sido levado ao Paraíso “fora do corpo”, e com isso confirmou a existência dessa entidade no homem, comumente chamada alma ou espírito.
Mas o caso é que a expressão “fora do corpo” requer outra interpretação. Noutras epístolas, Paulo usa expressão equivalente a “fora do corpo”, sem no entanto pretender o que os imortalistas pretendem com 2 Coríntios 12:2-4. “Eu na verdade”, escreveu ele aos coríntios, “ainda que ausente no corpo (literalmente “ausente ao corpo”), mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou..” (1 Coríntios 5:3). E aos colossenses ele escreveu: “Porque ainda que esteja ausente quanto ao corpo (literalmente “ausente à carne”), contudo em espírito estou convosco, regozijando-me, e vendo a vossa ordem, e a firmeza da vossa fé em Cristo” (Colossenses 2:5).
Paulo admite a possibilidade de ter estado no terceiro céu no mesmo sentido em que ele estava continuamente com os coríntios e os colossenses, bem como com todas as demais igrejas, a saber, em espírito. Ou pretenderá alguém que, enquanto ele escrevia aos coríntios, dizendo que estava “ausente ao corpo”, mas presente no espírito, ou aos colossenses, dizendo que estava “ausente à carne”, mas com eles em espírito, achava-se nessas igrejas a suposta “alma consciente e imortal” de Paulo, e que, por conseguinte, seu cadáver lhes estava escrevendo de Roma? Certamente ninguém sustentará tal absurdo. E por que então sustentar este absurdo em relação à visão do terceiro céu concedida ao apóstolo?
Paulo estava presente nas igrejas, não em pessoa, mas em pensamentos, sentimentos, etc. Neste sentido ele estava ausente ao corpo, mas presente em espírito. Quanto ao terceiro céu, ele admitiu a possibilidade de ter tido um arrebatamento de sentidos (Atos 10:10; 11:5; Apocalipse 1:10), um meio do qual o Senhor Se utiliza para comunicar Sua vontade e Seus desígnios aos homens. O sonho pode dar-nos uma ideia do que vem a ser isto. Às vezes alguém sonha que está noutra cidade, noutro país ou noutro continente. Seus sentidos recebem impressões tão vivas e perfeitas como se ele ali estivesse em pessoa. E às vezes sucede que, ao despertar, ainda pensa que está no lugar com que sonhou. Mas logo vê que foi sonho. Nesse lugar ele apenas esteve presente em espírito, mas ausente ao corpo.