O Espírito Santo é o poder de Deus?
As Testemunhas de Jeová entendem que o Espírito Santo é a “força ativa de Deus” (é assim que eles traduzem várias referências a Ele na sua versão da Bíblia: veja Gn 1.2, TNM). Nesse caso, cometesse o erro de confundir o doador com a dádiva. Wayne Grudem explica por que não devemos cometer esse erro:
“Se o Espírito Santo é entendido simplesmente como o poder de Deus, e não como pessoa distinta, então várias passagens simplesmente não fazem sentido, porque nelas o Espírito Santo e seu poder, ou o poder de Deus, são ambos mencionados. Por exemplo, Lucas 4.14 diz: ‘Jesus voltou pra a Galiléia no poder do Espírito’. Nesse caso o versículo significaria que ‘Jesus voltou para a Galiléia no poder do pode de Deus’. Em Atos 10.38, a expressão ‘... Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder...’ significaria que ‘Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o poder de Deus e poder’ (v. tb. Rm 15.13; 1Co 2.4).”[i]
O Espírito Santo é a glória de Deus?
Outras pessoas tentam identificar o Espírito Santo com a glória de Deus, com a Sua essência. Em uma visão contra a idolatria, o profeta Ezequiel descreve a manifestação de um ser semelhante a um homem. Da cintura para baixo ele era como fogo e a parte de cima do seu corpo era como o metal reluzente (cap. 8.2). O profeta conta que foi pego pelos cabelos por esse ser e logo em seguida ele identifica-o com “o Espírito” (vers. 3). Essa é a forma como o escritor refere-se costumeiramente ao Espírito do Senhor. Em visão, ele é conduzido a Jerusalém pelo Espírito e diante dele se manifesta a “glória do Deus de Israel” (vers. 4). Nesta visão o Espírito Santo aparece de forma clara e distinta da glória de Deus.
O Espírito Santo é um anjo querendo roubar a adoração devida somente a Deus?
O autor do livro A Divindade ou a Trindade? Chega uma conclusão que para nós soa como blasfêmia: “Adorar a ‘terceira pessoa da Trindade’ é adorar a terceira pessoa na hierarquia do céu – Lúcifer, antes da queda.”[ii] Para que esse raciocínio esteja certo é necessário que o Espírito Santo seja identificado como sendo um anjo. Será que era assim que Ellen G.White cria? Leia com atenção a seguinte passagem:
“[Os servos de Deus] têm de contender contra forças sobrenaturais, mas é-lhes assegurado sobrenatural auxílio. Todos os espíritos celestes se acham nesse exército. E mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha.” DTN 352.
Segundo a pena inspirada, o Espírito Santo não é um anjo frustrado tentando ser adorado como Deus. Essa conclusão não pode ser apoiada pelos seus escritos e muito menos pela Bíblia.
O Espírito Santo é “um raio de luz do Pai”?
O seguinte texto do Espírito Santo tem sido usado para dizer que a pomba que apareceu no batismo de Jesus era apenas um raio de luz do Pai:
“Os anjos nunca tinham ouvido uma oração como essa. Eles estavam ansiosos para levar ao suplicante Redentor mensagens de certeza e amor. Mas não; o próprio Pai atenderá ao Filho. Diretamente do trono é enviada a luz da glória de Deus. Abrem-se os céus, e raios de luz e glória procedentes de lá assumem a forma de uma pomba, como o aspecto de ouro polido. A forma semelhante a uma pomba era um emblema da mansidão e suavidade de Cristo.” 92MM 79.
Para entender essa passagem precisamos consultar o seu contexto em que ela foi escrito. Essa compilação é uma citação publicada primeiramente na revista Youth’s Instructor, de março de 1874. Mais adiante, no mesmo artigo, a autora continua a descrição da cena:
“João ficou profundamente comovido ao testemunhar o Salvador do mundo, curvado na mais profunda humilhação, pleiteando fervorosamente, com lágrimas, a aprovação de Seu Pai. No momento em que a luz e glória do Céu envolveram o Salvador, e uma voz foi ouvida, asseverando ser Jesus o Filho do Infinito, João viu o sinal que Deus tinha prometido a Ele, e soube, com certeza, que o Redentor do mundo havia recebido o batismo por suas mãos. Pleno de alegria e sentida emoção, ele estendeu a mão e apontou para Jesus, dizendo: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Este é aquele do qual eu disse: após Mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de Mim.’ Eu não o conhecia: Aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aqueles sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo’. Vi o Espírito descer como pomba e pousar sobre Ele; e eu ouvi a voz de Deus testificar que Ele é o Filho de Deus.”
Ellen White ensinava que o Espírito Santo é o próprio Cristo e não uma pessoa distinta da divindade?
Manuscrit Release, 14, p. 23 e 24 tem sido usado para provar que Ellen White ensinava que o Espírito Santo e Cristo são as mesmas pessoas. O referido texto diz:
“Impedido por Sua humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente; então foi ara benefício deles (os discípulos) que Ele deveria deixá-la, ir para o Pai, e enviar o Espírito Santo para ser seu sucessor na terra. O Espírito Santo é Ele mesmo, despojado da personalidade humana e independente dela. Ele se representaria como estando presente em todos os lugares por Seu Espírito, como Onipresente. ‘Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em Meu nome, ele vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito’ (João 14.26). ‘Mas digo-vos uma verdade: Convém que Eu vá, porque se não fosse, o Consolador não viria a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei [João 16.7].’”[iii]
Para entender o sentido desse texto deve-se lê-lo junto com uma passagem paralela encontrada no livro O Desejado de todas as nações: “O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente.” (p. 669). Portanto ela estava dizendo que o Espírito era como se Cristo estivesse presente com os discípulos, mesmo depois de Sua partida. Ellen White entendia que o Espírito Santo era distinto de Cristo. No mesmo capítulo do livro Desejado ela refere-se ao Ele como sendo a “terceira pessoa da Trindade.” (p. 671). Essa distinção pode ser percebida nos dois textos que ela cita logo em seguida na referida passagem. Enquanto em Jo 14.26 é dito que o Pai enviaria o Espírito Santo, no cap. 16.7 está escrito que o próprio Cristo é quem o envia. Assim, a autora está fazendo uma clara distinção de cada um dos membros da Divindade.
A. R. Timm comenta ainda:
“Ao sugerir que o Espírito Santo é Cristo, Ellen White empregou uma força de expressão semelhante a que Cristo usou ao dizer “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). Essas expressões enfatizam a unidade essencial entre o Espírito Santo e Cristo, e entre Cristo e o Pai, respectivamente, sem com isso negar a distinção de personalidade entre cada um deles.”[iv]
O Espírito Santo não deve receber adoração?
Apesar de não existir nenhuma ordem explícita para se adorar ao Espírito Santo convém destacar que a Bíblia afirma que Ele é digno de receber honra. Na introdução a Epístola aos Efésios (cap. 1.3-14) Paulo faz uma bela doxologia exaltando as três pessoas da divindade. Podemos dividir essa seção em três partes bem distintas onde cada uma delas descreve o motivo pelo qual cada membro da Trindade deve ser exaltado.
Os versículos 2 a 6, Paulo exalta o Pai. Ele começa dizendo “bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” para concluir com as palavras “para o louvor da Sua gloriosa graça”. Nessa primeira parte Paulo exalta ao Pai referindo-se a todas as bênçãos espirituais que recebemos por causa da sua vontade: nossa eleição, predestinação e adoção.
Na segunda seção, o apóstolo passa a falar da obra de salvação feita pelo Filho em nosso favor para concluir com a frase “para o louvor da Sua glória” (versículo 11).
Por fim, na terceira seção, Paulo centraliza a Sua atenção à obra do Espírito Santo em nosso favor, para terminar com a mesma frase “para o louvor da Sua glória” (versículo 14).
Para o apóstolo iguala cada um dos membros da divindade (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) para concluir que por conta da Sua obra em salvar a humanidade Eles merecem receber louvor, ou seja, devem ser adorados e reverenciados.
Por que o Espírito Santo não é citado como tendo um trono no céu?
Os opositores da doutrina da Trindade alegam que Ele não pode ser Deus ou mesmo uma pessoa por que a Bíblia não diz que Ele tem um trono no céu. As referências que existem na Bíblia que relacionam o Espírito Santo com o trono da divindade encontram-se no Apocalipse. Em Ap 1.4 está escrito: “dos sete espírito que estão diante do Seu trono”, e em 4.2 e 5: “Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu e nele estava assentado alguém. Do trono saiam relâmpagos, vozes e trovões. Diante dele estavam acessas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus.” Nas duas passagens o Espírito Santo é chamado de Sete espíritos de Deus. Sete é usado no Apocalipse para representar plenitude, assim essa é uma expressão que refere-se a plenitude da divindade revelada na terceira pessoa da divindade, pois há apenas um Espírito (Ef 4.4).
Como o grande conflito tem a ver com o questionamento da autoridade de Jesus, nada mais natural que o Apocalipse apresente o Filho como assentado no trono. O Espírito Santo foi enviado a Terra (Ap 5.6), centro da sua atuação na presente era. O fato da Bíblia falar em certas passagens apenas do trono do Filho (Mt 19.28; 25.31 e He 4.14 e 16) não quer dizer com isso que o Pai também não tenha um trono e que Ele não exista.
Por último, o Sl 47.8 refere-se ao trono de Deus: “Deus está assentado em seu santo trono.” Uma vez que Ele é Deus (At 5.3, 4) então Ele está assentado no trono da divindade também.[v]
[ii] OSÓRIO, Sérgio. A divindade ou a trindade? p. 87.
[iii] Citado por Jairo Carvalho em A Divindade, p. 5.
[iv] TIMM, A. R. Em Manuscript Releases, vol. 14, págs. 23 e 24, estaria Ellen White sugerindo que Cristo e o Espírito Santo são a mesma pessoa? Revista do Ancião, jul-set, 2005.
[v] MOURA, Ozeas Caldas. Trono. Seção Boa pergunta. Revista Adventista, maio de 2007, p. 17.