

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [...] Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3). “Pela fé é que sabemos que o universo foi criado pela palavra de Deus, de maneira que do invisível saiu o visível” (Hebreus 11:3 - H R). Portanto, “o que de Deus se pode conhecer”, “as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Romanos 1:19, 20).
O relato inspirado refere a criação com palavras muito simples, para que estivessem ao alcance do povo daquele tempo. Deus houve por bem não empregar uma linguagem técnica, pois ninguém seria capaz de entendê-la, nem mesmo os mais doutos cientistas hodiernos. Devemos, pois, contentar-nos com a simplicidade da linguagem bíblica.
A Bíblia chama este mundo um “globo” (Isaías 40:22) e diz que Deus “suspende a Terra sobre o nada” (Jó 26:7). Os sábios do passado, com as suas absurdas teorias cósmicas, certamente haviam de rir-se do fato de a Bíblia referir-se à Terra como sendo um globo a mover-se no espaço, mas finalmente se demonstrou, e hoje qualquer infante sabe que o relato bíblico é verdadeiro, ficando pois patente, como sempre ficará, que a palavra de Deus é a verdade e que a sabedoria humana é “loucura diante de Deus” (1 Coríntios 3:19).
Foi por meio de Cristo que Deus Pai criou, não só esta Terra e este céu, mas todo o Universo. Este mundo, com o sistema planetário a que pertence, e, bem assim, todos os demais mundos e sistemas planetários do vasto universo de Deus, não se criaram por si mesmos, do nada, mas saíram das mãos de um Criador onisciente e todo-poderoso. As leis que os regem não se originaram por si próprias. Todas procedem do Criador e são por Ele mantidas.
Criados os céus e a Terra, com o seu reino animal e vegetal, disse Deus: “Façamos o homem à Nossa imagem, conforme à Nossa semelhança; e domine [...] sobre toda a Terra”. “Criou, pois, Deus o homem à Sua imagem: [...] homem e mulher os criou” (Gênesis 1:26, 27). O homem foi feito à semelhança de Deus, não só no caráter, mas também na forma e aspecto. Não foi, porém, revestido da “expressa imagem” do Pai, pois esta somente Cristo possui (Hebreus 1:3). O homem não foi formado como nós o conhecemos hoje, física e intelectualmente fraco, deformado e doentio. Era de elevada estatura, seus traços eram perfeitos, vestes de luz envolviam seu corpo e era dotado de grande capacidade intelectual. Sua mente, moldada de acordo com a mente de Deus, era capaz de compreender as coisas divinas. A vontade de Deus lhe estava gravada no coração e no entendimento.
A Bíblia Sagrada relata de modo muito simples e explícito a origem da raça humana: “Criou Deus o homem à Sua imagem”. Não há aqui lugar para conclusões errôneas.
Que da matéria inerte possa ter saído, por si mesma, qualquer forma de vida, é uma ideia repugnante a todo cérebro esclarecido e dotado de sinceridade. Até hoje, pelo menos, ninguém pôde demonstrar a possibilidade de tal absurdo. E outro absurdo é a errônea crença na transformação progressiva das espécies, segundo a qual o homem não é nada mais que o resultado da evolução de um gérmen. Mas até hoje não se tem provado a possibilidade desta suposição, e todas as falsas teorias forjadas neste sentido têm sido postas por terra.
Nenhum motivo há para se crer que o homem, por um moroso processo de evolução, através de uma linhagem de germes, moluscos, répteis e quadrúpedes, remonte às formas inferiores da vida animal. Muitos dos pretensos sábios são tão estreitos nas suas concepções, que rebaixam sua própria origem, despojando-a de toda a dignidade. Diz, mui acertadamente, o apóstolo Paulo: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:21, 22). A luz da Palavra de Deus está ao alcance de todos e brilha mui claramente, de modo que ninguém necessita tatear nas trevas da filosofia humana.
Esse ser, o homem, criado à semelhança de Deus, crê-se popularmente seja composto de corpo e alma. A alma, que, comumente, também se chama espírito, pretende-se seja uma entidade imaterial, consciente e imortal, que continue a viver depois da morte do corpo.
Essa crença acerca da natureza do homem é mantida quase universalmente, tanto pelos pagãos como pelos cristãos professos. Os protestantes, na sua quase totalidade, creem que o homem possui uma alma abstrata, consciente e imortal, a sobreviver ao corpo, simplesmente porque herdaram essa crença inadvertidamente do catolicismo, que, por sua vez, a derivou da filosofia dos povos pagãos, nos primeiros séculos da era cristã.
Deixemos, porém, a Escritura Sagrada, autoridade fidedigna e infalível, exprimir-se relativamente a este assunto.
Diz a Escritura que “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2:7). Todos os elementos de que é formado o corpo humano são contidos na terra e provêm da terra. E quando Deus criou o homem, não colocou nele a alma, senão apenas o fôlego da vida. O homem era, antes de lhe ter sido insuflado esse fôlego, uma alma morta. Deus soprou nas narinas dessa alma morta o fôlego, e a mesma se tornou uma alma vivente, ou seja uma criatura viva. A Bíblia não diz que Deus pôs no homem uma entidade abstrata e imortal, que continuasse a viver, em estado de consciência, fora do corpo, depois da morte deste. Dessa entidade imaginária, a que geralmente se chama alma ou espírito, não depende a vida do homem.
A vida de todos os seres animados, e também das plantas, depende da respiração. A planta tem um princípio vital em que se baseia sua vida. A efetividade desse princípio requer, entre outras coisas, o bióxido de carbono e o oxigênio. Subtraindo-se à planta esses elementos, cessa a existência efetiva desse princípio vital e, consequentemente, cessa também a vida da planta. Ela morre. Essa ilustração serve para dar-nos uma ideia da vida e morte do homem. Mas vejamos uma ilustração talvez mais adequada. Admitamos a hipótese de termos à nossa frente uma vela acesa. A chama da mesma, que dá luz, depende do oxigênio. Faltando-lhe esse elemento, a chama se apaga e a luz desaparece. Assim, também, o homem possui um princípio vital, dado e mantido por Deus, princípio esse ao qual a Bíblia às vezes chama “espírito”, e mediante o qual o homem tem vida. Esse princípio vital depende da respiração. Por isso, a Bíblia também chama “espírito” ao fôlego do homem.
Retirando Deus o “fôlego de espírito de vida” (Gênesis 7:22) do homem, ele morre. Seu princípio vital se apaga e sua vida deixa de existir, assim como se apaga a chama da candeia e cessa sua luz. Do homem, por ocasião da morte, não se desprende nenhuma entidade imaterial, consciente e imortal, a que muitos chamam erroneamente “espirito” ou “alma”. A Bíblia nunca usa estes termos neste sentido, pois não existe essa entidade imaterial, consciente e imortal a sobreviver ao corpo.
Quando o homem nasce, Deus lhe dá o “fôlego de espírito de vida” (Gênesis 7:22). “ [...] Ele mesmo é quem dá a todos a vida e a respiração..” (Atos 17:25). “ [...] o Senhor, que criou [...] a Terra [...] dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela” (Isaías 42:5). Deus concede o princípio vital a toda criatura. “ [...] está na Sua mão [...] o espírito de toda carne humana” (Jó 12:10). Isto o salmista confirmou quando disse: “Nas Tuas mãos encomendo o meu espírito [...] Os meus tempos estão nas Tuas mãos” (Salmos 31:5, 15). Enquanto o homem vive, Deus lhe conserva o princípio vital e o fôlego: “E a Tua providência tem conservado o meu espírito” (Jó 10:12 -TB).
O homem, porém, não tem poder para reter seu fôlego. “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para reter o espírito; nem tem poder sobre o dia da morte..” (Eclesiastes 8:8). Disse o salmista: “ [...] se lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o seu pó” (Salmos 104:29). Quando o homem morre, sai-lhe o espírito ou fôlego da vida (Salmos 146:4). Esse fôlego é recolhido por Deus, conforme lemos em Jó 34:14-15: “Se Ele (Deus) pusesse o Seu coração contra o homem, e recolhesse para Si o seu espírito e o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó”. O espírito e o fôlego do homem são aqui uma coisa só. A repetição tem por finalidade reforçar a ideia. Ver exemplos em Salmos 79:4; 119:44; Isaías 58:1; 60:2; Naum 2:12, etc. Também o sábio Salomão confirmou que Deus recolhe para Si o fôlego do homem, quando este morre: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12:7). O sábio aqui, fazendo referência aos elementos de que o homem foi composto na criação — o “pó” que veio da terra e o “fôlego” que veio de Deus (Gênesis 2:7) — diz que esses dois elementos voltam às suas fontes originais. Esse “fôlego” ou “espírito” não é, porém, uma entidade consciente, pois, se fosse, a consciência do homem estaria no nariz. Ver Gênesis 2:7; 7:22; Isaías 2:22.
Os escritores bíblicos ligavam a ideia de “morte” com a de “exalação do fôlego”. Todo leitor da Bíblia Sagrada certamente estará familiarizado com o uso do termo “expirar” no sentido de “morrer”. Ora, “expirar” quer dizer “exalar o ar inalado”. O povo, nos tempos bíblicos, estava habituado com essa linguagem escriturística. Dizia-se, por exemplo, de uma pessoa que tivesse adoecido e morrido, o seguinte: “ [...] e a sua doença se agravou muito, até que nele nenhum fôlego ficou” (1 Reis 17:17). O povo compreendia que o fôlego expirado pelo homem, ao morrer, era recolhido por Deus, conforme denotam as passagens atrás citadas — Jó 34:14-15; Salmos 104:29; Eclesiastes 12:7. Nesta concepção é que o moribundo, ao soltar o último alento, pedia a Deus que recolhesse seu fôlego ou espírito. Disse Estêvão ao expirar: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7:59). E Cristo, ao morrer na cruz do Calvário, exclamou: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. “E, havendo dito isto, expirou” (Lucas 23:46). Isto, porém, não quer dizer, de modo nenhum, que o “eu consciente”, ou seja, a individualidade de Cristo, tenha ascendido ao Pai, pois o próprio Jesus, três dias após, declarou: “Não Me detenhas porque ainda não subi para Meu Pai” (João 20:17).
A Escritura declara: “Pois o que sucede aos filhos dos homens, sucede aos brutos; uma e a mesma coisa lhes sucede a eles. Como morre um, assim morre o outro; todos têm o mesmo fôlego, e o homem não tem vantagem sobre os brutos. Pois tudo é vaidade. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão para o pó. Quem sabe se o espírito dos filhos do homem sobe para cima, e se o espírito dos brutos desce para baixo, para a terra?” (Eclesiastes 3:1921 - TB).
Em todos os sentidos é, sem dúvida, grande a superioridade do homem em relação aos animais irracionais, mesmo depois da morte, porque, ao passo que o animais não ressuscitam, o homem tem a gloriosa esperança da ressurreição (João 5:2829). Porém, vantagem imediata, na morte, o homem não tem nenhuma, pois, como os animais, em pó se torna, Se, todavia, na morte, a “alma” do homem fosse para o Céu, então seria grande a vantagem do homem sobre os animais, e, neste caso seria falsa a declaração bíblica que acabamos de considerar.
Se o fôlego ou espírito que o homem exala na morte é uma entidade consciente e imortal, então temos que chegar à espantosa conclusão de que os animais, ao morrer, também desprendem uma entidade consciente e imortal, porque ambos, o homem e os animais, têm o “mesmo fôlego”. No texto original, a palavra hebraica para “fôlego”, em Eclesiastes 3:19, é a mesma que para “espírito”, em Eclesiastes 12:7. Tanto aqui como ali encontramos a palavra “ruah”. Esse “ruah” de todos os homens, bons e maus, pois o sábio fala do homem num sentido geral, e também o “ruah” dos animais, na morte, é recolhido por Deus, Quem lho deu, pois, foi o Senhor Quem lho assoprou nas narinas. E para onde vai o fôlego ou espírito (“ruah”) do homem quando recolhido por Deus? Vai para o Céu? De maneira nenhuma! Se o espírito do homem ao menos fosse para cima, enquanto o dos animais fosse para baixo, aquele já teria grande vantagem sobre estes. Mas nem mesmo esta vantagem o homem tem sobre os animais na ocasião da morte. “Quem sabe se o espírito dos filhos do homem sobe para cima, e se o espírito dos brutos desce para baixo, para a terra?” (Eclesiastes 3:21). Quem pode afirmar isto?
Deus recolhe o espírito ou fôlego de toda criatura, na morte, para reintegrá-lo ao ar. E na ressurreição dos mortos, Deus procederá como na criação, isto é, fará assoprar o fôlego ou espírito, do ar, nas narinas dos ressuscitandos, conforme se lê em Ezequiel 37:9, 10 — “E Ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor Jeová: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. E profetizei como Ele me deu ordem; então o espírito entrou neles e viveram, e se puseram em pé, um exército grande, em extremo”. Notai que não são espíritos individuais, vindos do Céu, mas um só espírito para todos, que vem dos “ventos”. Isto quer dizer que os mortos tornarão a receber a respiração e, assim, serão vivificados.