Durante o milênio, a Terra ficará vazia (Jeremias 4:23-26), pois os ímpios vivos serão todos mortos na segunda vinda de Cristo e os justos serão nessa ocasião trasladados para o Céu. Assim, durante esse período, Satanás estará amarrado por uma cadeia de circunstâncias (Apocalipse 20:1-3), porque a ninguém poderá tentar. Mas, findo o milénio, os ímpios ressuscitarão.
A Bíblia fala claramente de duas ressurreições gerais: Na segunda vinda de Cristo terá lugar a “ressurreição da vida” (João 5:29), que é a “ressurreição dos justos” (Lucas 14:14). Esta é a “primeira ressurreição” (Apocalipse 20:6). Nela não tomará parte nenhum injusto, mas somente aqueles sobre quem “não tem poder a segunda morte” (Apocalipse 20:6). Se há lima “primeira” deve também haver uma segunda ressurreição. E esta se realizará no fim do milênio, porque está escrito que “os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram” (Apocalipse 20:5). A ressurreição desses “outros mortos” é a “ressurreição [...] dos injustos” (Atos 24:15), ou a “ressurreição da condenação” (João 5:29).
Alguém poderá agora perguntar: “Se a Terra ficou vazia durante o milênio, como foi demonstrado, de onde vêm então, depois dos mil anos, as ‘nações’ (Apocalipse 20:8) de malfeitores que se arregimentam para tomar a cidade santa?” Essas nações são justamente, e só podem ser, os ímpios então ressuscitados.
“E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão. E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da Terra, Gogue, e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. E subiram sobre a largura da Terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; mas desceu fogo do Céu, e os devorou” (Apocalipse 20:7-9). Fora da cidade só existem nações de ímpios, todas as quais serão extintas nessa altura. “Porque o dia do Senhor está perto, sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; a tua maldade cairá sobre a tua cabeça. Porque, como vós bebestes no monte da Minha santidade, assim beberão de contínuo todas as nações; beberão, e engolirão, e serão como se nunca tivessem sido” (Obadias 15-16).
Temos aqui a resposta à pergunta feita pelo apóstolo Pedro: “qual será o fim daqueles que são desobedientes ao Evangelho de Deus?” (1 Pedro 4:17). O fogo que descer do Céu transformará esta Terra num “lago de fogo” (Apocalipse 20:14). Ali todos os ímpios serão consumidos; “serão como se nunca tivessem sido”, diz o profeta. A Bíblia fala bem claro, repetidas vezes, e de muitas maneiras, do aniquilamento completo dos ímpios.
O “dia do Senhor”, a que se refere o profeta Obadias, nos versos atrás citados, o apóstolo Pedro assim o descreve: “Mas os céus e a Terra que agora existem, pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. Mas, amados, não ignoreis uma coisa: Que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão” (2 Pedro 3:7-10).
Os ímpios não terão todos o mesmo grau de castigo. Uns ficarão a arder por mais tempo que outros, segundo a culpabilidade de cada qual. Satanás, seus anjos, a besta e o falso profeta terão que sofrer muito tempo, pois está escrito que “de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Apocalipse 20:10). A expressão “para todo o sempre” é traduzida do grego “eis tous aionas ton aionon”. Isto, literalmente traduzido, é igual a “pelos séculos dos séculos”. É uma duração mais extensa que “aion”; é o “a ion” desdobrado. Trata-se de um período de tempo bem longo, o qual, entretanto, terá seu fim. A expressão “pelos séculos dos séculos” pode biblicamente designar um espaço de tempo prolongado, porém, findáveis Assim, lemos, por exemplo, que, pela “terra de Edom”, ninguém deveria passar “pelos séculos dos séculos” (Isaías 34:6, 10). Mas essa terra já de há muito é habitada. Esse longo período (“pelos séculos dos séculos”) teve, portanto, seu fim.
“O “lago de fogo” que deverá arder sobre esta Terra “pelos séculos dos séculos”, finalmente se extinguirá, pois esta Terra, depois de purificada pelo fogo, se tornará a eterna morada dos santos.
- A estes acontecimentos o profeta Malaquias assim se refere: “Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós que temeis o Meu nome nascerá o sol da justiça, e salvação trará debaixo das suas asas; e saireis, e crescereis como os bezerros do cevadouro. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés naquele dia..” (Malaquias 4:1-3).
A Escritura Sagrada ensina claramente que os ímpios não arderão interminavelmente, mas que serão aniquilados. Não só uma ou duas, mas muitas vezes a Bíblia fala do fim deles em termos que denotam seu completo extermínio.
Os teólogos dizem que a sorte dos ímpios é “uma morte que nunca morre”, mas esta contradição de termos é tão absurda como dizer que o galardão dos justos seria “uma vida que nunca vive”.
Se a Bíblia, ao falar do fim dos ímpios, os comparasse a coisas incorruptíveis ou muito duradouras, como metais preciosos, pedras duráveis, etc., haveria lugar para a conclusão de que eles não deveriam consumir-se, porém sofrer interminavelmente. Mas a Sagrada Escritura, falando de seu extermínio, os assemelha aos objetos e às substâncias mais combustíveis e perecíveis. Assim, diz que serão esmigalhados como um vaso de oleiro (Salmos 2:9); desvanecer-se-ão como a tempestade (Provérbios 10:25); serão como a roupa destruída pela traça (Isaías 51:8); como o fumo que se esvai ou como a cera que se derrete (Salmos 68:2); serão abrasados como a palha (Malaquias 4:1); “serão como a gordura dos cordeiros (ao fogo); desaparecerão, e em fumo se desfarão” (Salmos 37:20).
Se é verdade que os ímpios arderão interminavelmente sem nunca consumir-se, então todas estas ilustrações são inaplicáveis e mesmo falsas. Na realidade, porém, estas declarações são todas apropriadas e verdadeiras. Falsa é a herética e pagânica teoria popular do tormento eterno dos ímpios.
O prezado leitor já viu a palha consumir-se? ou a cera, ao efeito do fogo, desfazer-se em fumaça e desaparecer? Se já, então teve um quadro da extinção completa dos ímpios.
Os ímpios perecerão — “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigénito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Temos aqui um dilema com duas proposições, a saber: Aquele que crê em Jesus vive eternamente; aquele que não crê perece. Esta será a sorte dos ímpios. Deus lhes fará “perecer no inferno a alma e o corpo” (Mateus 10:28). A palavra “inferno” é aqui traduzida de “Geena”, o vale de Hinon, ao sul de Jerusalém, do qual já falamos. Jesus aludiu a esse vale para ilustrar a futura Geena, o lago de fogo, que aguarda os ímpios no fim do milênio. Ali os ímpios perecerão. “Perecer” significa “acabar, findar, deixar de existir, morrer, ser assolado” (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).
Os ímpios serão destruídos — “O Senhor guarda todos os que O amam, mas todos os ímpios serão destruídos” (Salmos 145:20). “Destruir” quer dizer “desfazer, desmanchar, assolar, exterminar, demolir, desbaratar, arruinar, aniquilar, fazer desaparecer” (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).
Os ímpios serão exterminados — “ [...] o ímpio [...] é inteiramente exterminado” (Naum 1:15). “exterminar” significa “destruir com mortandade; eliminar, matando; aniquilar: fazer desaparecer” (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).
O ímpios serão consumidos —” [...] desceu fogo do Céu e os devorou” (Apocalipse 20:9). “ [...] o Senhor os devorará na Sua indignação, e o fogo os consumirá” (Salmos 21:9). “ [...] o fogo consumirá os teus adversários” (Isaías 26:11). “ [...] ardor de fogo [...] há de devorar os adversários” (Hebreus 10:27). Quanto ao alcance das palavras “devorar” e “destruir”, cremos que não é necessário recorrer ao dicionário, porque todos sabem que denotam aniquilamento.
Os ímpios deixarão de existir —”Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá” (Salmos 37:10). “Consume-os com indignação, consume-os para que não existam mais” (Salmos 59:13 - TB). “ [...] serão como se nunca tivessem sido” (Obadias 16). O ímpio é aniquilado, mas “aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 João 2:17).
No fim do milênio, também Satanás será aniquilado. Dá-nos certeza disto a vitória de Cristo sobre Satanás na cruz do Calvário. “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hebreus 2:14). Isto é o que o Senhor também diz categoricamente pelo profeta Ezequiel. Lemos: “Assim diz o Senhor Jeová: Tu eras o selo da simetria e a perfeição da formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus; cobriste-te de todas as pedras preciosas: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, a esmeralda, o carbúnculo e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim ungido que cobre; e estabeleci-te, de sorte que estivesses sobre o monte santo de Deus: andaste no meio das pedras de fogo. Tu eras perfeito nos teus caminhos desde o dia em que foste criado, até que a iniqüidade se achou em ti. Pela abundância do teu tráfico encheram de violência o teu interior, e pecaste; portanto te lancei, profanado, do monte de Deus, e te exterminei, ó querubim cobridor, do meio das pedras de fogo. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te nus, para que te contemplem. Pela multidão das tuas iniqüidades, na injustiça do teu tráfico, tens profanado os Meus santuários; portanto fiz sair do meio de ti fogo, que te devorou, e te reduzi a cinza sobre a terra à vista de todos os que que te contemplam. Todos os que te conhecerem entre os povos, ficarão espantados de ti; tu te tornas em pavor, e tu não subsistirás mais” (Ezequiel 28:12-19).
Satanás, sua criação, sua atividade e seu fim, são aqui descritos sob a figura do rei de Tiro. É comum, na Bíblia, o tropo retórico pelo qual se descreve uma coisa por alusão a outra que lhe serve de figura. Assim, por exemplo, fala-se dos “filhos de Levi” para designar aqueles que se dedicam ao ministério no tempo da segunda vinda de Cristo (Malaquias 3:2-5); fala-se do “profeta Elias” para apontar ao precursor da primeira e segunda vinda de Cristo (Malaquias 4:5-6); Lucas 1:17; Mateus 17:10-13); fala-se da “casa de Jacó” ou “casa de Judá” como sendo o povo de Deus no grande e terrível dia do Senhor, e da “casa de Esaú” ou “Edom” como sendo os injustos e desobedientes no mesmo grande e terrível dia (Obadias 15-18; Zacarias 12:1-6; Isaías 34:1-10; 2 Pedro 3:7-12) que, como indicam os sinais proféticos, já está às portas; Cristo fala da Geena (Vale de Hinon, ao sul de Jerusalém, do qual já tratamos) para designar o lago de fogo em que serão exterminados os ímpios no fim do milênio. Cumprir-se-á então, em relação àqueles que não conhecem a Deus, os quais são por isso chamados “Edom” ou “casa de Esaú”, a palavra do Senhor que diz: “serás exterminado para sempre” (Obadias 10). Às vezes, a Bíblia fala simultaneamente de duas pessoas, coisas, acontecimentos, etc., sendo que as mesmas palavras podem referir-se a ambos, ou, quando não, certas palavras se referem de preferência ou exclusivamente ao primeiro, ao passo que outras palavras se referem de preferência ou exclusivamente ao segundo. Exemplo desta natureza encontramos nos Salmos 16, 22 e 40, onde Davi fala de si mesmo e de Cristo; em Isaías 34:1-10, onde o Senhor, pelo profeta, fala tanto da destruição da Idumeia (“terra de Edom”) como da destruição do mundo por ocasião da segunda vinda de Cristo; em Mateus 24, onde Cristo fala tanto da destruição de Jerusalém como da destruição do mundo na Sua vinda.
Pretendem muitos partidários da doutrina da imortalidade da alma, que as palavras de Ezequiel 28, atrás citadas, não se referem a Satanás, mas sim ao rei de Tiro unicamente. Dessa, evasiva eles se valem, porque o aniquilamento de Satanás é aí referido em termos bem claros e positivos: “ [...] e te exterminei [...] fogo que te devorou, e te reduzi a cinzas [...] tu não subsistirás mais [...] (ou, como diz a versão de Almeida): [...] nunca mais será para sempre”. Estas passagens, que falam da destruição de Satanás, colocam os imortalistas em grandes apuros, pois põem por terra o edifício da abominação doutrinal da Babilônia. Daí o pretenderem muitos deles, como subterfúgio, que essas passagens não se referem a Satanás. O sustentar um erro geralmente implica em lançar mão de outro maior.
Vejamos agora porque essas passagens só podem aplicar-se, exclusivamente, a Satanás: Está dito: “Estiveste no Éden, jardim de Deus”. O rei de Tiro nunca esteve ali, mas Satanás sim. Gênesis 3:1; Apocalipse 12:9. O rei de Tiro nunca foi “querubim” e jamais foi “perfeito”. Diz a palavra inspirada: “ [...] e pecaste”. Isto sugere que até então ele não havia pecado. Pode isto aplicar-se ao rei de Tiro? Prossegue o relato: “ [...] te lancei [...] do monte de Deus [...] e lancei-te por terra”: Acaso o rei de Tiro alguma vez esteve no monte santo de Deus, onde Lúcifer habitava? Ver Joel 3:17; Hebreus 12:22; Apocalipse 14:1. Porventura o rei de Tiro alguma vez foi lançado do monte santo de Deus para a Terra? Isto aconteceu com Satanás e não com o rei de Tiro. Ver Isaías 14:12; Lucas 10:18; Apocalipse 12:8, 9. E quando foi que o rei de Tiro profanou os “santuários” de Deus? Como se vê, a descrição que encontramos em Ezequiel 28:12-19 não pode de maneira nenhuma aplicar-se ao rei de Tiro, mas sim a Satanás.
Fala o Senhor do aniquilamento de Satanás como sendo um ato já consumado: “ [...] te exterminei [...] fogo te devorou [...] te reduzi a cinzas [...] “ É que na Bíblia aparece frequentemente o que poderíamos chamar “antecipação”. Coisas futuras são descritas como se já fossem presentes, e acontecimentos vindouros como se já houvessem ocorrido. Exemplos: “ [...] ouça a Terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas; Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança” (Isaías 34:1, 2). “Ora ninguém subiu ao Céu”, disse Jesus, “senão o que desceu do Céu, o Filho do homem, que está no Céu” (João 3:13). E Eu já não estou mais no mundo..” (João 17:11). “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos para fazer juízo contra todos..” (Judas 14, 15). “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna..” (1 João 5:13). “ [...] livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). O apóstolo Paulo assim se expressa em relação aos frequentes casos de antecipação que aparecem na Escritura: “Deus [...] chama as coisas que não são como se já fossem” (Romanos 4:17).