

(Review and Herald, 14/12/1905)
Em meio à maravilhosa prosperidade de Salomão emboscava-se o perigo. Os pecados dos últimos anos de seu pai Davi, embora se havendo ele arrependido deles e tendo sido severamente punidos, haviam feito que o povo se tornasse ousado na transgressão dos mandamentos de Deus. Por meio de associação com nações circunvizinhas, más influências foram gradualmente permeando o reino que havia sido abençoado de maneira tão notável. Não se fazia indagação a Deus. A riqueza, com todas as suas tentações, chegou rapidamente nos dias de Salomão a um número crescente de pessoas. "Fez o rei que em Jerusalém houvesse ouro e prata como pedras preciosas, e cedros em abundância como sicômoros que há nas baixadas." 2 Crônicas 1:15.
Através dos séculos, riquezas e honra têm sido consideradas de muito perigo para a humildade e espiritualidade. Quando alguém prospera, quando todos os seus semelhantes falam bem dele, é que está em extraordinário perigo. O homem é ser humano. A prosperidade espiritual só continua enquanto o homem depende inteiramente de Deus para a obtenção de sabedoria e perfeição de caráter. E os que mais sentem sua necessidade de dependência de Deus são geralmente os que têm a menor quantidade de riquezas terrestres e honra humana de que depender.
A Aprovação Humana
Há perigo em dar ricos presentes ou proferir palavras de elogio a agentes humanos. Os que são favorecidos pelo Senhor precisam estar constantemente em guarda para que o orgulho não venha a brotar e alcançar supremacia. Aquele que tem seguidores incomuns, aquele que tem recebido muitas palavras de elogio dos mensageiros do Senhor, necessita das orações especiais dos fiéis atalaias de Deus, para que fique escudado contra o perigo de alimentar pensamentos de vaidade e orgulho espiritual. Jamais deve tal pessoa manifestar presunção ou tentar agir como ditador ou dominador. Ore ele e vigie, tendo em vista unicamente a glória de Deus. À medida que sua imaginação passa a dominar coisas não vistas e ele contempla a alegria da esperança que diante dele está posta – mesmo o precioso privilégio da vida eterna – o elogio humano não lhe encherá a mente de pensamentos de orgulho. E por vezes, quando o inimigo faz esforços especiais para corrompê-lo por meio de lisonja e honra mundana, seus irmãos devem fielmente adverti-lo dos perigos que o ameaçam; pois, se for deixado à sua própria sorte, estará inclinado a cometer erros e revelar fragilidades humanas.
No tempo de Salomão, como em nossos dias, os que louvavam, lisonjeavam e glorificavam o talentoso rei, eram os mesmos que deixavam de reconhecer e glorificar a Deus pelas bênçãos que lhes concedera por meio do instrumento humano. Eles louvavam o homem. Deus era desonrado. E logo o Senhor percebeu que o vaso, que Ele havia escolhido e usado em Seu sagrado serviço, havia se tornado impuro. Os sentimentos, o espírito e a semelhança do homem natural começaram a aparecer, e aquele que uma vez estivera fazendo a vontade de Deus, tornou-se corrupto pela exaltação humana. Então a debilidade e a fraqueza humana de Salomão foram reveladas pela escolha de amigos insensatos, cujo proceder ajudava o tentador a enredá-lo. O Senhor permitiu que ele fosse seduzido porque não queria ser aconselhado; queria andar em seu próprio caminho.
Poder no Serviço
O Senhor coloca os homens em posições de responsabilidade, não para que façam sua própria vontade, mas a vontade de Deus. Ele dá sabedoria aos que O buscam, e que dEle dependem como o seu conselheiro. Enquanto o homem representar os puros princípios de Seu governo Ele continuará a abençoá-los e mantê-los como Seus instrumentos para realizar Seus propósitos para com o Seu povo. Ele coopera com os que cooperam com Ele. É do interesse de todos que desempenham alguma parte no serviço de Deus, trabalhar com exatidão e fidelidade. Pois há de revelar-se distintamente a linha demarcatória entre o Seu povo e os habitantes do mundo. Aquele que permanece fiel aos princípios jamais o Senhor deixará que se enfraqueça e desanime.
A palavra do Senhor a Salomão aplica-se a todos os que concordam em assumir responsabilidades em qualquer parte da obra do Senhor. A fortaleza de caráter deve ser honrada pelos que professam guardar os mandamentos e estatutos de Deus. As solenes exortações, promessas e apelos, tão amplos e plenos, feitos a Salomão, dirigem-se a toda pessoa que ocupar seu lugar determinado para fazer a obra que Deus lhe indicou.
No Vale da Humilhação
Não é a taça vazia que temos dificuldade em carregar. É a taça cheia até à borda que precisa ser cuidadosamente equilibrada. A aflição e a adversidade podem causar muitos inconvenientes e trazer grande depressão; mas é a prosperidade que é perigosa para a vida espiritual. A menos que o súdito humano esteja em constante submissão à vontade de Deus, a menos que seja santificado pela verdade, e tenha a fé que opera por amor e purifica a alma, a prosperidade certamente despertará a inclinação natural para a presunção.
Nossas orações precisam ser proferidas principalmente em favor dos homens que ocupam altos postos. Eles precisam das orações de toda a Igreja, pois lhe são confiadas prosperidade e influência.
No vale da humilhação, onde os homens dependem de Deus para que os ensine e lhes guie cada passo, há relativa segurança. Cada um, porém, dos que estão em viva comunhão com Deus, ore em favor dos homens que ocupam posições de responsabilidade — pelos que estão em elevado pináculo, e que por sua elevada posição, presumem possuir muita sabedoria. A não ser que tais homens sintam sua necessidade de um Braço mais forte do que o braço da carne em que se apoiar, a menos que coloquem em Deus sua dependência, sua visão das coisas ficará distorcida, e eles cairão.