Dizem alguns: “Se não possuímos uma alma imortal que, quando da morte do corpo, vá gozar as delícias do Céu, então é vã toda a nossa carreira cristã”. Teriam razão para assim dizer caso não tivéssemos a gloriosa esperança da ressurreição. Na falta desta é que seria vã a nossa fé. Ensina o apóstolo Paulo que “se os mortos não ressuscitam [...] os que dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Coríntios 15:16-18). Ora, se estão no Céu, como podem estar perdidos? Por aí podemos ver que Paulo centralizava suas esperanças, não numa continuação de vida, sob outra forma, em seguida à morte, mas sim na ressurreição. Se possuíssemos uma alma que se desligasse do corpo, depois da morte deste, e fosse imediatamente gozar as delícias do Céu, então de maneira nenhuma estariam perdidos os que morreram em Cristo na hipótese de que não houvesse ressurreição. Esta, aliás, seria em suma desnecessária, pois que necessidade teríamos nós de ressuscitar no último dia, se, em seguida à morte, continuássemos a viver sob outra forma e fôssemos imediatamente para o Céu? Como se vê, a doutrina da imortalidade da alma apenas anula a gloriosa esperança da ressurreição.
Se, conforme Paulo ensina, estamos perdidos no caso de não haver ressurreição, é porque, antes da ressurreição, não há nenhuma outra recompensa. Os profetas e apóstolos não esperavam ir para o Céu assim que morressem, pois concentravam todas as suas esperanças numa recompensa na segunda vinda de Cristo, ocasião em que todos os justos serão ressuscitados para receber o galardão. Nesta esperança é que Jó disse: “Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus não acordará nem se erguerá de seu sono [...] Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros. O verão. (Jó 14:11, 12; 19:25-27). Quando o profeta Daniel acabou sua carreira, Deus não o fez subir ao Céu, mas disse-lhe: “Tu, porém, vai até o fim; porque repousarás, e estarás na tua sorte no fim dos dias” (Daniel 12:13). O apóstolo Paulo punha todas as suas esperanças na ressurreição quando da segunda vinda de Cristo, esperando só então receber sua recompensa. Disse ele a propósito: “Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Coríntios 1:9). Paulo sofreu a perda de todas as coisas a fim de que pudesse ganhar a Cristo, “para ver”, disse ele. “se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dos mortos” (Filipenses 3:1 0. Se Paulo esperasse, por recompensa, ir para o Céu imediatamente em seguida à morte, teria dito assim: “ [...] para ver se de alguma maneira posso subir ao Céu assim que eu morrer”. Na véspera de sua execução, Paulo se referiu ao galardão que lhe fora prometido, dizendo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda” (2 Timóteo 4:7-8). Consideremos ainda outra declaração de Paulo indicando que o galardão não será concedido aos justos antes da segunda vinda de Cristo: “Seja (o tal) entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor” (1 Coríntios 5:5). O espírito, ou a alma, ou ainda, a vida (palavras sinônimas) do justo, não é salva por ocasião da morte, mas será salva “no dia do Senhor”. Nesse dia cumprir-se-ão estas palavras de Jesus: “qualquer que por amor de Mim, perder a sua vida, a salvará” (Lucas 9:24). Cristo também declarou que o justo não é galardoado antes da ressurreição, quando disse: “E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos” (Lucas 14:14).
A recompensa dos justos, dos santos, dos profetas, de todos os fiéis desde o princípio do mundo, ser-lhes-á dada num tempo determinado, relacionado com o fim do mundo e a segunda vinda de Cristo. A esse tempo lançou João um olhar profético em visão, quando ouviu os vinte e quatro anciãos dizer: “e veio a Tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, Teus servos, e aos santos, e aos que temem o Teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a Terra” (Apocalipse 11:18).
Pode um cristão sincero ler estas passagens e esperar receber sua recompensa imediatamente após a morte? Há na Bíblia pelo menos uma passagem que lhe prometa a entrada no Céu na ocasião em que morrer?
“Davi não subiu aos céus” (Atos 2:34), disse Pedro num dos seus discursos. E Davi afirmou: “Eu vou pelo caminho de toda a Terra” (1 Reis 2:2). Disto ressalta que o caminho de toda a humanidade, na morte, não conduz ao Céu. Se fosse verdade que o homem possui uma “alma abstrata, imortal e consciente, a sobreviver ao corpo”, conforme ensinam os imortalistas, então o “Davi” só poderia ser sua “alma”, e de maneira nenhuma sua carne. A carne deveria ser apenas o invólucro ou a casa residencial de Davi, mas nunca o próprio Davi. Se, pois, está escrito que “Davi não subiu ao Céu”, resulta-se que, ou o homem não possui essa “alma”, ou a mesma não vai para o Céu por ocasião da morte da carne, o invólucro do homem. Se fosse verdade que os justos vão para o Céu quando morrem, então um dos dois, ou Pedro ou Davi, teria mentido. Mas a Bíblia não se contradiz. Plena harmonia a caracteriza. Os homens é que contradizem a Bíblia quando alegam que o homem, ao morrer, vai para o Céu, pois, na realidade, via de regra, “ninguém subiu ao Céu, senão o que desceu do Céu, o Filho do homem, que está no Céu” (João 3:13).
A vida eterna ou imortalidade será outorgada aos justos por ocasião da ressurreição, na segunda vinda de Cristo, quando também lhes será concedida a entrada no Céu. “Eis que vos digo um mistério”, escreveu o apóstolo Paulo aos coríntios, “na verdade nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: “Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória”? (1 Coríntios 15:51-55). Se só então os justos se revestirão da imortalidade, é porque não a possuem até aí. Caso possuíssem vida eterna inerente, nenhuma necessidade teriam de revestir-se da imortalidade quando da segunda vinda de Cristo, ocasião em que os justos que jazem nas sepulturas ressuscitarão.
Crê-se popularmente que os justos, ao morrerem, assumem a natureza espiritual dos anjos, entrando imediatamente em companhia destes. Muitos, mesmo, afirmam que os “espíritos ministradores, enviados para servir em favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hebreus 1: 14), aos quais o apóstolo Paulo, no verso anterior, chama “anjos”, são os “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hebreus 12:23). Segundo a teologia popular, o espírito que se desprende do homem, por ocasião da morte, é uma entidade consciente mas abstrata, “pois um espírito não tem carne nem ossos” (Lucas 24:39). E os anjos, pelo fato de serem chamados “espíritos”, são da mesma espécie, segundo a opinião do povo. O que não tem carne nem ossos, deve ser forçosamente abstrato — é o que se crê.
Ora, para que o prezado leitor possa melhor avaliar o absurdo desta teoria, peça a uma criança que lhe aponte algumas coisas concretas, que não tenham nem carne nem ossos, e verá como há de encontrar milhares. Dirá, talvez: “Um automóvel, uma bola, um livro, etc.”. Pergunte-lhe, em seguida, com palavras acessíveis à sua idade, se estas coisas são abstratas em virtude de não terem carne nem ossos, e verá como um infante, na sua inocência, sinceridade e falta de preconceito, compreende melhor as verdades da Palavra de Deus do que os que se intitulam impropriamente “teólogos”.
Os justos, é inegável, se tornarão iguais aos anjos. Mas quando será isso? Na morte ou na ressurreição? Ouçamos as palavras de Cristo: “Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no Céu” (Mateus 22:30; Lucas 20:35, 36).
Seremos, sim, na ressurreição, quando da volta de Cristo, e não antes, iguais aos anjos. Mas os anjos não são imateriais, como geralmente se supõe, nem nós o seremos quando sairmos dos sepulcros, se é que Cristo não virá antes de morrermos.
“Em verdade, em verdade vos digo”, falou Jesus, “que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão [...] Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida..” (João 5:25, 28, 29). “E todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas [...] E irão [...] os justos para a vida eterna” (Mateus 25:32, 46). Que necessidade teriam os justos, na segunda vinda de Cristo, de entrar (“irão”) na vida eterna, caso já estivessem de posse da mesma, como um dom inato? E para que a “ressurreição da vida”, se o homem, como dizem, já possui vida eterna inerente desde que nasce? Os justos só receberão a vida eterna quando da ressurreição da vida, e não antes. “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Daniel 12:2).
“Quem tem o Filho”, escreveu o apóstolo João, “tem a vida; e quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus” (1 João 5:12, 13). O apóstolo João, com estas palavras, não quer dizer que o cristão é efetivamente revestido de imortalidade desde o momento em que aceita a Cristo. Os crentes a quem o servo de Deus disse: “tendes a vida eterna”, estão mortos já de há quase dois mil anos. Eles, porém, tinham a vida eterna em promessa, ou seja, tinham a promessa de entrar na vida quando ressuscitassem, na segunda vinda de Cristo. “Esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna” (1 João 2:25). Se temos a promessa de receber a vida eterna, então ainda não estamos de posse da mesma, pois que necessidade teria Deus de prometer-nos aquilo que já possuíssemos efetivamente? Por enquanto temos apenas a esperança de recebê-la. “ [...] sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna” (Tito 3:7). Só é possível alguém esperar receber alguma coisa enquanto não a possui.
Cristo e os apóstolos referem-se à vida eterna como sendo coisa futura. Disse Paulo: “ [...] a promessa da vida presente e da que há de vir”(1 Timóteo 4:8). “Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna’ (Romanos 6:22). Em Romanos 2:5-7, lemos que a vida eterna será concedida aos justos no dia do juízo, ou seja, quando Cristo vier “para fazer juízo contra todos” (Judas versos 14,15; 2 Timóteo 4:1). Cristo disse: “Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, e não haja de receber muito mais neste mundo e na idade vindoura a vida eterna” (Lucas 18:29, 30).
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer”, escreveu Paulo, “temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos Céus [...] Pelo que estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:1, 6-8). Paulo aqui se refere ao que havia dito na sua epístola anterior aos coríntios: “E assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial. E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Coríntios 15:49-52). Em 2 Coríntios 5:1-8, Paulo quer frisar o fato de que, para habitar com Cristo, no Céu, é preciso que nos dispamos da carne e do sangue, que é “nossa casa terrestre”, e nos revistamos de corpo celestial, “conforme o Seu corpo glorioso” (Filipenses 3:21). Isso, porém, só se dará na segunda vinda de Cristo. Só então é que estaremos com o Senhor e com Ele habitaremos.
“Virei outra vez”, disse Jesus, “e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também” (João 14:3). Caso os apóstolos, e, bem assim, todos os justos fossem habitar com Cristo no Céu por ocasião da morte, Ele não precisaria vir buscá-los na consumação dos séculos, quando “o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16-17). Só então se cumprirá a esperança de Paulo de “estar com Cristo” (2 Coríntios 5:8) pois só na “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” é que se verificará “nossa reunião com Ele” (2 Tessalonicenses 2:1).
Na expressão de Paulo “assim” estaremos sempre com o Senhor”, a palavra “assim” indica a maneira como havemos de chegar à Sua presença para com Ele estar: é pela Sua segunda vinda, ficando pois relegado o modo espúrio ensinado popularmente, segundo o qual os justos vão ter com Cristo pela morte.
Só na segunda vinda de Cristo é que os justos estarão efetivamente salvos, pois só então serão galardoados com a vida eterna. Para melhor compreensão do que vamos dizer, consideremos um exemplo prático. Um aluno, ao acabar de prestar todos os exames, e sendo bem sucedido, diz: “Passei”. Na realidade, ele ainda não passou, mas espera com certeza a promoção, em virtude dos bons exames que prestou. Assim, também nós podemos dizer que estamos desde já salvos no sentido de termos a promessa e esperança da salvação que há de vir, mas somente estaremos salvos em realidade quando recebermos a vida eterna, na segunda vinda de Cristo.
As Escrituras Sagradas referem-se à salvação como sendo coisa ainda futura, na qual devemos centralizar nossas esperanças: “ [...] gememos em nós mesmos”, disse Paulo, “esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança somos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos” (Romanos 8:23-25). “ [...] seremos salvos..” (Romanos 5:10).
.. a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (Romanos 13:1 1). “ [...] fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16) “ [...] sei que disto me resultará salvação..” (Filipenses 1:19). “ [...] aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 10:22). “ [...] mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo” (1 Pedro 1:5).