Quem foi Pedro Valdo?
- Em: História
- Por: Pasquale Lemmo
William Jones, historiador Batista do Século XIX, comenta:
A história de Pedro Valdo, sua vida exemplar, seu zelo na causa da verdade e justiça, o nobre sacrifício que ele fez a favor do princípio religioso, e o extraordinário sucesso que coroou seus trabalhos na promulgação do evangelho da paz, o qualifica para ter mais que uma mera menção acidental na história do tempo em que viveu.
Era um rico comerciante na cidade de Leon, - a cidade que, no segundo século da era cristã, foi abençoada com a clara luz da verdade divina - onde Cristo havia plantado uma numerosa igreja para servir como um pilar no qual a sua verdade devia ser inscrita; ou um candeeiro no qual Ele havia colocado a lâmpada da vida. Mas a lâmpada a muito tempo havia sido apagada, e o pilar removido.
Leon, nos tempos de Pedro Valdo, havia submergido em um estado da mais espessa escuridão e superstição. Cerca do ano 1160 a doutrina da transubstanciação, que posteriormente foi confirmada pelo papa Inocêncio IV, de maneira mais solene; era exigido pelo clero de Roma ser reconhecido por todos. A mais perniciosa prática de idolatria achava-se ligada com a recepção desta doutrina. As pessoas se ajoelhavam diante da hóstia consagrada e a adoravam como se fosse Deus.
Tal abominação, o absurdo e impiedade desse ato, possivelmente agitou a mente de Pedro Valdo, que se opôs a esta prática de forma corajosa.
Mas embora a consciência e a razão de Valdo se revoltasse contra esta nova superstição, parece que ele não entretecia naquele tempo qualquer idéia distante de separar-se da comunhão da igreja de Roma, nem tampouco de manifestar intenso interesse pela religião em sua mente.
Deus, porém, que tem o coração dos homens em suas mãos, e que os movimenta como as águas dos rios, havia destinado para Pedro Valdo uma obra importante no Seu reino. Um extraordinário incidente foi um meio de despertar a mente de Pedro Valdo para "aquela única coisa. "Certa noite, após a janta, estava conversando com amigos e , um dos companheiros caiu morto instantaneamente para o espanto de todos os presentes. Tal é a lição sobre a incerteza da vida humana, e isto impressionou a mente de Valdo.
A Bíblia Vulgata Latina era a única edição das Escrituras naquele tempo na Europa. Mas a linguagem não era acessível a todos, exceto alguns poucos. A condição financeira de Pedro Valdo, felizmente, o habilitou a vencer aquele obstáculo. "Sendo um pouco erudito" diz Reinerius Sacco, quando comenta sobre Pedro Valdo "ele ensinou o povo o texto do Novo Testamento na própria língua nativa. "
A súbita morte de seu amigo o levou a pensar em sua própria experiência dissoluta, e, sob o terror de uma de uma consciência despertada, recorreu às Escrituras Sagradas para instrução e conforto. Ali, no conhecimento do verdadeiro caráter de Deus, como um Deus justo, e o conhecimento do Salvador, Pedro Valdo encontrou a pérola de grande valor - o meio para escapar da ira vindoura. A crença no testemunho que Deus deu a respeito de Cristo, infundiu-lhe paz e alegria na mente; elevou seus pensamentos e afeições para acima da "fumaça e nuvem escura em que se achava envolvido"; guiou-o para olhar e lutar pela glória, honra e incorruptibilidade, para a vida eterna, no mundo que há de ser.
Mas o amor cristão é um princípio que opera. Alarga a mente onde habita, e enche-o com generosos sentimentos - com supremo amor para com Deus, e a mais desinteressada benevolência para com o homem. Valdo ansiava para comunicar aos outros uma porção daquela felicidade que ele desfrutava. Abandonou, portanto, suas atividades no comércio, distribuiu suas riquezas para os pobres à medida que a ocasião requeria. E enquanto os pobres iam a ele para usufruírem de sua benevolência, ele trabalhava para despertar a atenção deles para as coisas que pertencem à paz eterna.
Um dos primeiros objetivos foi colocar nas mãos do povo a Palavra da Vida. E ele mesmo traduziu ou pagou para outros traduzir os quatro Evangelhos para o francês. Matthias Illyrius, um escritor que prosseguiu seus estudos sob Lutero e Melancton, e era um dos Maqdeburgh Centuuriators, falando de Pedro Valdo diz: "Sua bondade para com os pobres sendo difundida, seu amor pelo ensino, e o amor deles para aprender, crescendo cada vez mais forte, grandes multidões vieram a ele, e Valdo lhes explicava as Escrituras. Ele mesmo era um homem erudito. Assim eu posso entender de alguns antigos manuscritos - nem foi ele obrigado a empregar outros para traduzir os evangelhos para ele como seus inimigos afirmam. "
Quer Pedro Valdo tenha traduzido estas Escrituras ou empregado outros para fazê-lo, ou possivelmente, tenha ele mesmo executado a tarefa com a assistência de outros, - o certo é, que os habitantes da Europa são devedores a Valdo da primeira tradução da Bíblia para uma língua moderna desde a época que o latim havia cessado de ser uma língua viva - uma dádiva de inestimável valor.
A medida que Pedro Valdo tornava-se mais familiarizado com as Escrituras, começava a descobrir que uma multidão de doutrinas, ritos e cerimônias que haviam sido introduzidos na religião romana, não tinham fundamento algum na Palavra de Deus, e eram claramente condenados no Livro Sagrado.
Inflamado com zelo pela glória de Deus, de um lado, e a preocupação pela salvação das almas de seus compatriotas, de outro lado, ele ergueu sua voz como de trombeta contra estes erros, condenando a arrogância do papa e o reino de corrupção do clero.
Tampouco ele se satisfez em combater o que era errado nos outros. Ensinou a verdade em sua simplicidade; fez aplicações práticas de sua influência no coração e vida; e pelo seu próprio exemplo, como também apelando para as vidas daqueles que primeiramente creram em Jesus, Valdo trabalhou para demonstrar a grande diferença que existia entre o cristianismo da Bíblia e o cristianismo pregado pela igreja de Roma.
O resultado de tudo isto pode ser facilmente visto pela mente pensante. O arcebispo de Leon ouviu a respeito desses trabalhos e ficou irado. A tendência era obvia. A honra da igreja achava-se nela e, em perfeita harmonia com os métodos então usado de procurar silenciar os opositores, o arcebispo proibiu o novo reformador de ensinar sob pena de excomunhão, e ser processado como um herege.
Pedro Valdo respondeu que embora sendo leigo, não podia ficar em silêncio em um assunto tão importante que envolve a salvação de seu próximo. Tentativas foram feitas para prendê-lo. Mas o grande número e a bondade de seus amigos; o respeito e a influência de suas relações pessoal, muitos dos quais eram homens de posições; o reconhecimento geral em que era tido por seu caráter puro e religião piedosa; e a convicção de que sua presença era altamente necessária entre o povo, que neste tempo haviam formado uma igreja, sendo ele mesmo o superintendente; - todos estes fatores cooperaram fortemente em seu favor, de formas que ele viveu oculto em Leon durante o espaço de três anos inteiros.
Informações do que se passava em Leon foram levadas ao papa Alexandre III, que tão logo se deu conta de tais procedimentos heréticos, promulgou anátema contra o reformador e seus adeptos, ordenando o arcebispo mover perseguição contra eles com o máximo rigor.
Pedro Valdo foi compelido a fugir de Leon. Seu rebanho em grande medida seguiu os seu pastor. E desta circunstância surgiu a dispersão como a igreja de Jerusalém fora dispersada por ocasião da morte de Estevão. Os resultados foram semelhantes. O próprio Valdo retirou-se para o Dauphiny, onde ele pregou com grande sucesso. Seus princípios se aprofundaram qual raiz de uma árvore grande, e produziu numerosa colheita de discípulos que foram denominados de - Leonistas, Vaudois, Albigenses ou Valdenses. Pois a mesma classe de cristãos é designada por estes vários nomes em épocas diferentes, e de acordo com os diversos países ou lugares nesses países onde eles surgiam.
Perseguido de lugar em lugar, Pedro Valdo retirou-se para o Picardy, onde grande sucesso atendeu seus trabalhos. Expulso dali, prosseguiu para a Alemanha, levando consigo as boas novas da salvação. E de acordo com o testemunho de Thuanus, um historiador francês de grande credibilidade, Pedro Valdo finalmente se estabeleceu na Boêmia, no ano de 1179, depois de um ministério de cerca de vinte anos.
Certamente ele foi um homem de dons singulares, e uma daquelas pessoas extraordinárias que Deus, em Sua Providência, chamou e qualificou para realizar importante obra no Seu reino. Contudo, quase nenhum historiador descreve com justiça seus talentos e caráter.