Os movimentos anti-trinitarianos recentes não tem atacado diretamente a divindade de Cristo. Baseado nos escritos dos pioneiros do adventismo, no máximo eles têm questionado a Sua eternidade e se, quando esteve na terra, Ele tinha ou não tendências pecaminosas. O centro da discussão tem sido a terceira pessoa da divindade, o Espírito Santo. E, apesar da quantidade de material que eles têm produzido sobre esta questão, podemos resumir o problema a duas perguntas:
· O Espírito Santo é um ser pessoal?
· Ele é uma pessoa distinta do Pai e do Filho?
Se respondermos a estas duas questões todo o problema estará resolvido, por que outros aspectos são secundários e não decisivos. Sproul toca no cerne da questão quando escreve:
“Por mais ferozes que tenham sido os debates sobre a deidade de Cristo, tem havido comparativamente pouca controvérsia no tocante à deidade do Espírito Santo. A Bíblia apresenta o Espírito Santo como possuído dos atributos divinos e exercendo a autoridade divina. Desde o século IV d.C. a sua deidade tem sido raramente negada por aqueles que concordam em que ele é uma pessoa. Isto é, embora tenha havido muitas disputas concernentes à questão se o Espírito Santo é uma pessoa ou apenas uma ‘força’ impessoal, uma vez que se admita que, verdadeiramente, ele é uma pessoa, o fato que ele é uma pessoa divina ajusta-se facilmente em seu lugar.”[i]
Provar a divindade do Espírito Santo não é difícil e nem é fonte de discussão e disputa. Tanto trinitarianos como não trinitarianos concordam que se trata do Espírito de Deus, portanto que Ele é Deus. Falando aos crentes em Corinto, Paulo explica que o cristão é o “santuário de Deus” por que “o Espírito de Deus habita” em nós (1Co 3.16). Em seguida, em uma passagem paralela, ele reafirma que “acaso não sabem que o corpo de vocês é o santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?” (1Co 6.19). Nesta segunda passagem, Paulo faz duas importantes afirmações: para ele, ser santuário de Deus é o mesmo que ser o santuário do Espírito Santo, portanto o Espírito Santo é Deus. A segunda verdade que aprendemos é que esse Espírito Santo foi dado por Deus. Paulo distingue a dádiva do doador, ou seja, Ele é distinto de Deus. Tanto o Pai (1Co 8.6) como o Filho (Jo 1.1, 14) são chamados de Deus nas Escrituras, então, só podemos concluir que o Espírito Santo é a terceira pessoa da divindade.
Todos os envolvidos na questão sabem que Pedro afirmou que o Espírito Santo é Deus (At 5.3, 4). Mas as Escrituras Sagradas também ensinam que Ele é Jeová. Jeremias 31.31-34 profetizou:
“‘Estão chegando os dias’, declara o Senhor [Jeová], ‘quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá, Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, pesar de eu ser o Senhor deles’, diz o Senhor [Jeová]. ‘Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias’, declara o Senhor [Jeová]: ‘Porei a minha lei no íntimo deles e a escrevei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo’.”
Essa passagem é citada duas vezes na epístola aos Hebreus. Na primeira vez que é citada, o autor começa dizendo: “Deus, porém, achou o povo em falta e disse: ‘Estão chegando os dias... [segue o texto de Jeremias].” Na segunda vez que o autor de Hebreus cita a mesma passagem, ele o faz de modo mais abreviado. Contudo ele a anuncia de uma forma diferente: “O Espírito Santo também nos testifica a este respeito.” Ou seja, o Jeová de Jeremias é chamado de Deus e de Espírito Santo em Hebreus.
Para Paulo, confirmando o que já havia sido ensinado em Hebreus, a missão de gravar a lei de Deus no coração do homem, na nova dispensação, é obra do Espírito Santo: “Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrito não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos.”
Não poderíamos encerrar esse ponto sem mencionar outra leitura comparativa. O profeta Isaías escreveu: “Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: ‘Quem enviarei? Quem irá por nós?’ E eu respondi: ‘Eis aqui, enviam-me!’ Ele disse: ‘Vá, e diga a este povo: Estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam; estejam sempre vendo, e jamais percebam’.” (Isaías 8.8 e 9) Essa mesma passagem é citada no Novo Testamento em duas ocasiões. Na primeira, o apóstolo João aplica esta passagem como se cumprindo em Cristo: “Isaías disse isso porque viu a glória de Jesus e falou sobre ele.” (Jo 12.41). Na segunda, o apóstolo Paulo aplica a mesma passagem ao Espírito Santo: “Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio do profeta Isaías: ‘Vá a este povo e diga: Ainda que estejam sempre ouvindo [...].” (veja a passagem toda citada At 28.25 a 27). A revelação da glória de Deus a Isaías, no Antigo Testamento, é dito que no NT que ora refere-se a Jesus ora aplica-se ao Espírito Santo. Isso revela que os escritores do NT os consideram como iguais.