Que é morte?
- Em: Teologia
- Por: Alfons Balbach
Disse certa vez um doutor em teologia: “Vida é gozo e morte é sofrimento. Morrer ou perecer é o mesmo que sofrer”. Pedimos-lhe que provasse este absurdo pela Bíblia, mas não foi capaz.
Interessante! Certas palavras, quando usadas na Bíblia, devem ter um significado que nenhum homem intelectualmente são e sincero lhes é capaz de dar quando aparecem noutros livros! Assim, por exemplo, as palavras “vida” e “morte”, quando encontradas em qualquer livro comum, têm simplesmente o significado de “existência animada” e “cessação da existência animada”, respectivamente; mas quando encontradas na Bíblia, devem, segundo os teólogos, significar “gozo” e “sofrimento”. Que lhe parece isto, prezado leitor?
Qualquer pessoa de mente sã e sincera sabe dar a cada palavra comum o seu verdadeiro sentido. Se o estimado amigo encontra num livro a palavra “água”, sabe que é água mesmo; que vinho é vinho mesmo; e que leite é leite mesmo; etc. Mas se um teólogo, para justificar heresias inadvertidamente herdadas da velha igreja mãe, afirmasse, na exposição da Bíblia, que, no texto sagrado, água é azeite, vinho é manteiga e leite é mel, concordaria com tal interpretação? E como é possível concordar com os falsos significados impingidos às palavras “vida” e “morte”?
Quando os homens perdem o amor da verdade, Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam a mentira (2 Tessalonicenses 2:10-11). Para apoiar um erro, agarram-se a outro maior, e para sustentar este, apegam-se a outro maior ainda, e assim sucessivamente. Desta maneira rejeitam a verdade e inventam teorias fabulosas, hediondas heresias e erros crassos. Assim é que as religiões que constituem a Babilônia espiritual não são nada mais que sistemas doutrinários inteiramente falsos e inconsistentes. Não queremos contudo dizer que todos os seus adeptos sejam hipócritas. Isso não. Há muitas pessoas sinceras nessas igrejas. Estão, porém, enganadas. Por isso, Deus lhes envia o convite: “Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante do seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas” (Apocalipse 18:4).
Mas analisemos agora do ponto de vista bíblico o contrassenso: “Vida é gozo e morte é sofrimento”.
Disse, desesperado, o profeta Jonas: “Melhor me é morrer do que viver” (Jonas 4:8). Será que sofrer era para ele melhor do que gozar?
Cristo é chamado o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). Se morrer é sofrer, então Cristo estava em sofrimento desde a criação.
João apóstolo, descrevendo a visão profética que lhe foi concedida sobre o futuro castigo da besta e do falso profeta, diz: “Estes dois foram lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre” (Apocalipse 19:20). Se “vida é gozo”, então a besta e o falso profeta serão lançados cheios de gozo no lago de fogo. Pode ser isto?
Como se vê, quando alguém foge da verdade, cai em grandes absurdos.
Outro conceito da teologia popular acerca de “morte” é o seguinte: “Morte não significa aniquilamento, porém, separação. Morte física é a separação do espírito do corpo, como ficou claramente provado no capítulo anterior (isto é, como o autor pretende ter provado - o grifo é nosso); morte espiritual é a separação do espírito de Deus; e a morte eterna ou segunda morte é a separação ou banimento completo e eterno do espírito, no corpo ressuscitado, da presença e influência de Deus e de qualquer bem”. — O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus, pág. 102. Mas onde é que há, na Bíblia, fundamento para estas tabulas? O autor do referido libelo, mediante o qual Satanás procura reter muitas e preciosas almas nas trevas, tem mesmo a ousadia de citar, como se estivesse na verdade, passagens da Bíblia, com as quais pretende sustentar esta heresia. E não é de admirar, pois o próprio Satanás usou a Bíblia. Mateus 4:6. Diz o referido autor: “Quando Deus ordenou a Adão no Éden, que não comesse da árvore da ciência do bem e do mal, ele acrescentou: ‘porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás’ (Gênesis 2:17). Foi, porém, Adão aniquilado, ou morreu ele como os sabatistas entendem, tendo comido do fruto? Não. Continuou a viver uma vida natural de 930 anos. (Gênesis 5:5). Mas então Deus mentiu ou mudou Seu plano? Segundo os sabatistas, sim. Mas nós dizemos, com toda a Bíblia, que a palavra de Deus se cumpriu à risca no mesmo momento em que comeram do fruto proibido. Adão e Eva ‘CERTAMENTE’ morreram espiritualmente, porque o pecado os separou imediatamente do Deus santo; tanto assim que não puderam mais suportar a Sua presença, fugindo, dEle”. Idem, pág. 103.
Vejamos a realidade neste assunto: “Vida” quer dizer “existência animada”. Morte é o fim da vida, a cessação das funções vitais. A Bíblia, porém, considera mortos não só os que já morreram em realidade, mas também os que estão sob a sentença de morte. Biblicamente, ser condenado à morte equivale a morrer. Assim é que os nossos primeiros pais podiam considerar-se mortos desde o momento em que receberam a sentença de morte: “és pó, e em pó te tornarás” (Gênesis 3:19). Cristo é chamado o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). Isto não quer dizer que, desde a criação, dEle se tenha separado Seu Espírito ou que Ele tenha sido separado de Deus, mas que, desde então, estava determinada a Sua morte para redimir o homem. E desde que fora determinado para morrer, podia considerar-Se morto. Isso porque “Deus [...] chama as coisas que não são como se já fossem” (Romanos 4:17). Assim, também, desde que recebemos a promessa da vida (1 João 2:25), podemos considerar-nos como já tendo a vida (1 João 5:13), se bem que ela só nos será concedida em realidade na segunda vinda de Cristo. (Mateus 25:46; Lucas 18:30; Romanos 2:5-7; etc.). Passar “da morte para a vida” (João 5:24; 1 João 3:14) é o mesmo que passar da sentença de morte para a promessa e esperança da vida.
No fato de Cristo ser chamado o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”, temos, pois, um caso de morte sem separação de espécie alguma. Vejamos agora alguns casos de separação, segundo a teologia popular, sem ter havido morte.
Estando o profeta Elias prestes a ascender ao Céu, disse-lhe Eliseu: “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2 Reis 2:9). E isto ele também obteve. “O espírito de Elias repousou sobre Eliseu” (verso 15), quando “Elias subiu ao Céu num redemoinho” (verso 11). Ora, se dermos a “espirito” o significado popular, então resulta-se que a essência de Elias, sua individualidade, seu “eu consciente”, ou seja, o Elias propriamente dito, não subiu ao Céu, senão apenas seu invólucro, sua carne morta. Mas será que Eliseu pediu a Elias que lhe concedesse, em duplicata, algum espírito pessoal, consciente e imortal, que nele estivesse encarnado, isto é, a própria essência do Elias? Não! Pediu tão somente uma porção dobrada de seu caráter, entendimento, etc. A isto é que Eliseu chamou “espírito”.
A rainha de Sabá certa ocasião fez uma visita ao rei Salomão. E vendo ela “toda a sabedoria de Salomão, e a casa que edificara, e a comida da sua mesa, e o assentar de seus servos, e o estar de seus criados, e os vestidos deles, e os seus copeiros, e a sua subida, pela qual subiam à casa do Senhor, não houve mais espírito nela. E disse ao rei: foi verdade a palavra que ouvi na minha terra, das tuas coisas e da tua sabedoria..” (1 Reis 10:4-6). Quer isto dizer que um espírito abstrato, consciente e imortal, segundo a crença popular, tivesse desencarnado da rainha, deixando ali o seu cadáver? A esta assombrosa conclusão teríamos que chegar, todavia, se sustentássemos o conceito de “alma” ou “espírito”, segundo a teologia popular. No entanto, ela não morreu, ainda que tivesse ficado sem espírito. A expressão “não houve mais espírito nela” quer dizer que ela ficou sem ânimo e sem ideias.
Enquanto Davi andava fugido de Saul, “acharam no campo um homem egípcio, e o trouxeram a Davi, deram-lhe pão e comeu, e deram-lhe a beber água. Deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e dois cachos de passas, e comeu, e voltou-lhe o seu espirito, porque havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água” (1 Samuel 30:11, 12). Quando esse homem foi encontrado sem espírito, estava ele morto? Não! De maneira nenhuma! E no entanto ele estava sem espírito. Tendo tomado algum alimento, “voltou-lhe o seu espirito”, isto é, ele recobrou seu ânimo e energia.
A Bíblia, às vezes, também usa “espirito” no sentido de “fôlego”. Neste caso, saindo do homem o espírito, ele morre, pois não pode viver sem respiração. (Já 34:14, 15; Salmos 146: 4; Eclesiastes 12:7; Lucas 8:55; Tiago 2:26; etc.).
Se morte é uma continuação de vida sob outra forma, então os animais irracionais também continuam a viver depois de mortos. “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego; e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma” (Eclesiastes 3:19).
Morte, em realidade, conforme usada na Bíblia, é a cessação das funções vitais e a consequente extinção do ser. Quando o homem morre, ele nada mais sabe, pensa ou sente. Está morto de fato. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tão pouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol [...] Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma” (Eclesiastes 9:5, 6, 10).
Segundo a teologia popular, o homem, em seguida à morte, vai consciente para o Céu. Mas a Bíblia refuga esta forma de espiritismo ou paganismo, afirmando que o homem vai “para a sepultura” e fica restrito a esta esfera, “debaixo do Sol”. Se é verdade que o homem possui uma entidade imaterial, consciente e imortal, e desligável do corpo por ocasião da morte, entidade essa à qual comumente se chama “espírito” ou “alma”, então essa entidade é o “eu”. A carne é apenas o invólucro ou a casa residencial do “eu”, mas nunca o próprio “eu”. Mas a Bíblia, diz que o “eu” vai para a sepultura: “ [...] na sepultura para onde tu vais [...] ” Disto compreende-se que o homem não possui essa suposta entidade popularmente chamada “alma” ou “espírito”. Se a possuísse, teríamos que chegar à conclusão de que a mesma vai para a sepultura. O “eu” é o homem todo. A “alma” e o “espírito”, segundo usado na Bíblia, são apenas faculdades do homem, as quais não podem subsistir por si, assim como não pode haver música sem instrumento.
A Bíblia não só diz que o homem, na morte, é reduzido à condição de inconsciência e insensibilidade, mas afirma também que é extinto. “Mas morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito (ou fôlego), então onde está? Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus não acordará nem se erguerá do seu sono” (Jó 14:10-12).
Diz a teologia popular que “a segunda morte”, que será a sorte dás ímpios, é a sua final separação de Deus. Mas isto é um grande contrassenso. Assim como não é possível alguém morrer segunda vez, a menos que reviva depois da primeira morte, também não seria possível aos ímpios sofrer “segunda” separação, a menos que fossem previamente reconciliados com Deus. Além disso: Se a “segunda morte” é uma “segunda separação” de Deus, então essa condição será temporária, porque a morte deixará de existir em seguida à destruição dos ímpios. “E não haverá mais morte”, diz a Bíblia. (Apocalipse 21:4).
Seja Deus louvado por ter-nos dado Sua Palavra - poderoso escudo contra o erro.