

De acordo com o historiador Gibbon, no final do primeiro século o mundo civilizado tinha cerca de 100 milhões de habitantes. Sob a administração firme e expansionista dos imperadores Domitiano ( 81-96 d. C. ) e Trajano ( 98-117 d. C. ), o Império Romano estava no pináculo da sua glória, estendendo suas conquistas até regiões distantes e mantendo o domínio sobre todas essas regiões - de perto e de longe - com mão de ferro.
O paganismo, com todo aquele vasto sistema que envolvia a religião pagã - seus templos, sacerdotes, oráculos sagrados, objetos de adoração, festas religiosas, divindades incontáveis cultuadas e a mitologia que envolvia os deuses, ofertas e sacrifícios, jogos, os filósofos e escolas que buscavam sustentar a teoria da adoração pagã, etc - era a religião oficial do império.
O paganismo do império romana englobava todos os deuses e suas mitologias que eram adoradas pelas nações conquistadas. O Panteon, um dos monumentos da antigüidade preservados em Roma, atesta claramente a inclusão dos deuses dos povos derrotados na veneração e respeito de seus adoradores dentro do império.
Mas o paganismo do primeiro século já estava em decadência. Uma classe de adoradores sentia um vazio na fervorosa busca de alcançar a paz com as divindades, ou obter a esperança e consolação prometidos aos adoradores. Uma outra classe achava-se envolvido no sistema de culto pagã por razões de conveniências e interesses econômicos, sociais, políticos e religiosos. Havia ainda uma grande classe que participava das festas e cultos patrocinados em devoção aos deuses, meramente por tradição e formalismo. Em todas essas classes havia multidões que ansiavam por uma religião que preenchesse esse vazio social e espiritual do coração.
Quando a fé da religião cristã, fundamentada nos ensinos dos profetas e apóstolos, e tendo como pedra angular o Senhor Jesus Cristo - Sua vida de perfeita obediência, Seu ensino sobre a verdade, Sua morte expiatória em nosso favor, Sua ressurreição e ascensão ao Céu, Sua intercessão no santuário celestial ( Ef. 2:17-22 ) - começou a ser proclamado em todas as partes do império, aos de perto e aos de longe, a consciência de muitos foi despertada para raciocinar a respeito da verdadeira religião, o verdadeiro Deus e a maneira pelo qual podiam reconciliar-se com Ele e alcançar a paz.
O impulso missionário iniciado pelos apóstolos foi continuado por genuínos cristãos que se convertiam ao cristianismo. A exemplo do apóstolo Paulo, esses novos conversos ao evangelho, não mediam esforços para alcançar terras distantes, povoados isolados, enfrentando perigos inúmeros, para pregar a salvação de Deus àquelas regiões obscurecidas pelas trevas espirituais e morais, levando as boas novas da reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. O evangelho das boas novas pregado, como nos explica o apóstolo Paulo, fundamentava-se no "arrependimento para com Deus e fé em Jesus Cristo"( Atos 20:21 ); a pregação clara do Deus Criador, Aquele Deus que gregos e romanos não conheciam e que em Atenas haviam edificado um altar ao deus desconhecido ( Atos 17:16-31 ) - o Deus que nos dá vida, respiração e tudo o mais. . . pois nEle vivemos, e nos movemos e existimos. . . Ora não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora porém, notifica aos homens que todos em todas as partes se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça. "
Cerca de 30 anos após Cristo ter oferecido Sua vida para nos resgatar, pagando a nossa dívida, para resgate daqueles que crêem: “O Justo morreu pelos injustos para nos reconciliar com Deus (1 Pe. 3:18); o apóstolo Paulo declara aos crentes de Colossos, que o evangelho da graça e amor de Cristo havia sido pregado a todo o mundo ( Col. 1:23 ). Multidões tinham ouvido falar do verdadeiro Deus e dos méritos do sacrifício de Cristo como único meio de reconciliação com Deus.
Como resultado, uma classe de desiludidos pagãos que almejavam uma paz e esperança de salvação, abraçou com entusiasmo as verdades proclamadas pela fé cristã. Eles sentiram o poder transformador dessa fé na vida, eram renovados na conduta social e moral, tinham a bússola da esperança cristã de uma recompensa de glória, prometida àqueles que seguem o caminho e são fiéis aos preceitos e ensinos pregados por Cristo.
Onde quer que famílias ou pequenos grupos de cristãos eram formados, a sociedade via a diferença: em famílias bem ordenadas, jovens obedientes e isentos de vícios e paixões corruptas; membros da família cristã manifestando profundo amor fraternal, sempre dispostos a ajudar os necessitados, pobres e doentes da sociedade; tendo como guia de vida, fé e conduta as Escrituras Sagradas; que preservava a instituição matrimonial como sagrada e indissolúvel; que manifestavam regozijo, pureza e santidade em seu culto de adoração a Deus, etc - tudo isso apelava, atraía e cativava as afeições de pagãos sinceros que aspiravam conhecer a verdadeira religião, fé e esperança de salvação; o verdadeiro Deus, e aqueles genuínos princípios de conduta que devem ser demonstrados na vida. E muitos deles abraçavam a fé e moldavam suas vidas em harmonia com a esperança e princípios da fé cristã.
A religião cristã, diferente do sistema religioso do paganismo, apresentava-se como uma fé peculiar, singular, que não aceitava princípios de crença e conduta do paganismo. Pregava contra a veneração de incontáveis divindades, considerando-o degradante e idolatria. Condenava as festas, jogos e paixões degradantes da sociedade como pecado gravíssimo. Apregoava com fervor que somente a religião cristã tinha a verdade sobre Deus e a salvação, e que todos os outros sistemas eram falsos. Declarava que os escritos e defensores desses sistemas transviavam multidões do caminho certo. Os cristãos condenavam com veemência e não se submetiam a qualquer tipo de veneração e adoração que eram prestados aos imperadores.
A política do Império Romano era ser tolerante com respeito aos deuses venerados pelas nações subjugadas. Esses deuses e suas mitologias não apenas tolerados, mas também incorporados aos deuses respeitados e venerados no império. Os devotos de um culto de adoração a uma divindade, não condenavam nem achavam errado a veneração e culto a outras divindades.
Mas a religião cristã apresentou-se de maneira bem peculiar, como já foi descrito. Além disso, os cristãos revelavam-se missionários ardorosos, que convenciam para a fé cristã, pessoas de todas as classes da sociedade. Os templos pagãos eram freqüentados cada vez por menos devotos; suas festas, jogos, procissões, amuletos, oráculos sagrados, etc, - estavam caindo em descrédito popular.
Tudo isso fez com que as forças do paganismo se unissem na tentativa de quebrar a força do cristianismo que avançava e criava raízes por toda parte. Portanto, sacerdotes dos templos pagãos, os artesões, os comerciantes, os líderes de jogos e diversões; os patronos de casas de embriaguez, de glutonaria e de eventos de paixões corruptas; os magistrados corruptos - finalmente uniram suas forças para combater a fé cristã e seus discípulos. Decretos foram promulgados e executados - alguns deles restringindo-se a algumas Províncias, outros aplicados em todo o Império.
A apologia de Tertuliano ao imperador Severo Sétimo, cerca do ano 200, revela o panorama da época, o crescimento dos cristãos e as calúnias e perseguições que eles foram vítimas:
"É verdade que somos apenas de Ontem, e no entanto temos enchido todas as vossas cidades, vilas, ilhas, castelos, concílios, exército, cortes, palácios, Senado, Tribunais. Temos deixado para vós apenas os vossos templos. . . Estamos mortos para todas as idéias de dignidade e honras mundanos. Nada é mais estranho para nós do que atividades políticas, todo o mundo é nossa República.
"Somos um Corpo unidos em um laço de religião, disciplina e esperança. Nos reunimos em nossas assembléias para oração. Somos compelidos a recorrer aos oráculos divinos por prudência e meditação em todas as ocasiões. Nutrimos nossa fé pela Palavra de Deus. Fundamentamos nossa esperança, fixamos nossa confiança, fortalecemos nossa disciplina, mediante a contínua assimilação dos preceitos das Escrituras, exortações e correções, e pela exclusão quando esta for necessária. Esta última (exclusão) é muito séria, e solene advertência do juízo vindouro de Deus, se alguém proceder de forma escandalosa a ponto de ser impedido da santa comunhão. Aqueles que presidem entre nós, são pessoas idosas que são destingüidos, não pela riqueza, mas pela virtude de caráter. . .
"Se a cidade é sitiada, se qualquer coisa errada ocorre no exército, na lavoura, nos campo, imediatamente os pagãos clamam: "Isto é por causa dos cristãos. " Nossos inimigos tem sede do sangue de inocentes, cobrindo o ódio do coração com o slogan: "Que os cristãos são a causa de toda a calamidade pública. " Se o rio Tiber inunda acima dos muros; se o Nilo não transborda para fertilizar os campos; se os céus alteram o curso das estações; se há um terremoto, fome, uma praga, imediatamente se levanta o clamor: "Lançai os cristãos aos leões. " Portanto que as mandíbulas das feras selvagens nos despedacem e seus pés nos pisem, enquanto nossas mãos estão estendidas para Deus; que cruzes nos suspendam; que fogos nos consumam; que espadas atravessem nosso peito - um cristão que ora é uma estrutura que suporta qualquer coisa. O sangue dos cristãos é uma semente, quanto mais é derramado, mais crescemos e nos multiplicamos. "