

O adventismo não nasceu como movimento missionário. Pelo contrário, ele era um grupo fechado que achava que sua missão era apenas pregar as suas doutrinas peculiares para os mileritas desapontados. Como Jesus iria voltar naqueles dias a oportunidade de salvação estava fechada para o mundo. Esta posição era chamada de doutrina da “porta fechada”. Baseado na parábola das dez virgens de Mt 25.1-13 eles ensinavam que a rejeição da pregação do clamor da meia-noite (“Eis o noivo! Saí ao seu encontro!”, cap. 25.6) havia fechado a porta da graça para os que rejeitaram a mensagem.
Este clamor havia se iniciado com os estudos proféticos de Samuel Snow. Ao examinar o ritual litúrgico anual do judaísmo ele concluiu que assim como as festividades da primavera estavam relacionados com a primeira vinda de Cristo as do outono prefiguravam a segunda vinda. Assim o dia da expiação, comemorado no décimo dia do sétimo mês do calendário judaico, que em 1844 cairia no dia 22 de outubro, deveria marcar o retorno de Cristo à terra. Até ali o próprio Guilherme Miller era resistente em marcar uma data exata para a volta de Jesus. Snow anunciou as suas conclusões em uma campal em agosto de 1844. A sua conclusão era irrefutável, o peso das evidências era esmagador. A mensagem do clamor da meia-noite, conhecido também como o movimento do sétimo mês, se alastrou como fogo em palha seca no verão, mas nem todos receberam com alegria a nova luz. Os que rejeitaram a nova luz foram comparados com as virgens imprudentes da parábola. Como eles recusaram atender o convite do clamor e não guardaram óleo a mais, o senhor da festa não lhes abriria a porta para a festa nupcial. Com a vinda de Jesus, a porta da graça estaria fechada para os incrédulos.
Quando a data chegou e Cristo não veio a ideia de que a porta da graça estava fechada para o mundo continuo ecoando na mente dos fundadores da mensagem. A própria Ellen White continuou crendo nisto: “Por algum tempo depois da decepção de 1844, mantive, juntamente com o corpo do advento, que a porta da graça estava para sempre fechada para o mundo.”[1]
Por isso, todo o esforço missionário do novo grupo religioso que estava nascendo se concentrou entre os mileritas desapontados. Contudo, com o tempo, começaram a surgir relatos de pessoas que nunca tinham participado do movimento milerita e que estavam se convertendo e aceitado a mensagem adventista colocou em questionamento a doutrina da porta fechada.
Aos poucos o povo do advento percebeu que a mensagem dos três anjos de Apocalipse 14 deveria ser dada ao mundo. Contudo, por várias razões eles ainda resistiam à ideia de uma pregação mundial da mensagem. Como eram pequenos em número e não dispunham de recursos para esta empreitada, eles concentraram seus esforços em alcançar os imigrantes que estavam chegando nos Estados Unidos naquela época. Como pessoas de quase todas as partes do mundo estava migrando para lá, os adventistas imaginavam que bastava pregar a estes povos que o mandamento de evangelizar o mundo todo estava sendo cumprido pela igreja. Em um editorial de 1859 Urias Smith expressou esta ideia escrevendo que “talvez não fosse necessário cumprir Ap 10.11, visto que nosso país é composto de povos de quase todas as nações”.[2]
O despertar missionário
Às vezes, quando a igreja fica envolvida em questões menores e esquece da sua missão maior, o Senhor toma as rédeas da situação e assume a frente da obra diretamente. Foi assim que o evangelho alcançou a família de Cornélio e o eunuco etíope levou a mensagem de Cristo para o seu povo. Assim foi nos primórdios do adventismo. O primeiro missionário adventista além- mar foi um leigo não reconhecido pela organização. M. B. Czechowski era um ex-padre de origem polonesa que aceitou a mensagem adventista em 1857, um ano depois da sua chega à América. Em 1864 ele pediu autorização da Junta missionária ligada à Associação Geral para ser enviado como missionário na Europa.
Como a organização se recusava bancar a sua aventura missionária, Czechowski procurou ajuda financeira entre os Cristãos do Advento, grupo de ex-mileritas que não aceitavam a doutrina do sábado e do santuário. Eles ficaram encantados com o zelo missionário do ex-sacerdote e garantiram o seu sustento na empreitada missionária. Ele partiu para a Europa em 14 de maio de 1864.
Durante quatorze meses ele trabalhou no norte da Itália, onde várias pessoas aceitaram a mensagem do sábado. Por causa da oposição que sofre ele migrou com a família para a Suíça onde conquistou cerca de quarenta crentes para a fé adventista. Em 1867 ele organizou a primeira igreja adventista fora dos Estados Unidos da América em Tramelan, Suíça. Contudo o ex-padre nada falava da igreja que defendia o que ele ensinava que existia na América. Durante três anos ele teve sucesso em ocultar este fato. Contudo no fim de 1867, Alberto Wuilleumier encontrou um exemplar da Review and Herald entre os pertences de Czechowski. Ele ficou entusiasmado com a notícia de que havia observadores do sábado na América. Ele escreveu uma carta em francês para a sede da obra.
A troca de correspondência foi intensa até que a obra resolveu enviar um missionário oficial para assumir a liderança da obra na Suíça. O nome escolhido foi o de John Andrews, que chegou no país alpino em 1874. Dalí ele estabeleceu contato com várias pessoas em diversas partes do velho mundo e rapidamente a mensagem do terceiro anjo alcançou outros países da Europa.[3]
Czechowski tinha muitas dificuldades com administrar dinheiro, seu ou da Obra. Ele perdeu uma impressora, usada para imprimir material missionário, na Suíça por falta de pagamento. Contudo, ele tinha qualidades excepcionais. Além de falar diversos idiomas era um missionário incansável. Outro ponto a seu favor era a qualidade dos seus conversos. J. D, Greymet, Francisco Besson, Jonas Jones e outros dos seus conversos, deixaram tudo para se tornarem missionários de temo integral. Alberto Vuilleumier, que fabricava relógios, colaborou na expansão da obra na Europa como missionário voluntário e na qualidade de ancião de igreja batizou muitas pessoas. Outro fruto do trabalho do ex-padre, James Erzberger, estava se preparando para o ministério quando aceitou a verdade do sábado. Ele transferiu seu zelo e amor pela pregação do evangelho para a causa adventista. Ele dedicou sua vida à pregação desta mensagem.[4]
O Movimento Adventista na Alemanha
O Movimento Adventista começou na Alemanha de forma inusitada. Como vimos, em 1874 a liderança da igreja envia seu primeiro missionário além mar para pregar a tríplice mensagem angélica na Europa. O pastor John Andrews estabeleceu-se na Suíça. Como parte da sua estratégia evangelística, ele colocou anúncios em vários jornais pedindo que pessoas que estivessem guardando o sábado bíblico ou que tivessem interessem em investigar o assunto de forma mais profunda escrevessem cartas para a sede da obra na Suíça. No início de 1875, os crentes suíços souberam por meio de mendigo itinerante que existia um grupo deu guardadores do sábado no sul da Alemanha. Eles eram liderados por J. H. Lindermann. Andrews, auxiliado por James Erzberger, visitou este pequeno grupo. Apesar de Lindermann aceitar o sábado, o batismo e a doutrina da segunda vinda de Cristo ele não pode se tornar adventista por discordar de questões referentes ao milênio. Contudo alguns membros da sua congregação abraçaram a mensagem adventista. Eles formaram o primeiro núcleo de adventistas alemães. Como Andrews tinha que voltar para a Suíça, deixou Erzberger como líder da obra que estava se iniciando na terra de Lutero. Erzberger permaneceu ali até o verão de 1878. Durante este tempo ele visitou e realizou conferências desde o Reno à Prússia Oriental.
Depois que Erzberger deixou o campo alemão, a obra adventista naquele país ficou oito anos sem um pastor para liderar o trabalho. Parecia que a igreja na Alemanha havia ficado congelada no tempo. A situação mudou completamente com a chegada de Louis Conradi. Ele foi enviado pela direção da obra nos Estados Unidos para liderar a obra adventista naquela região na Europa. A prosperidade e avanço da obra adventista na Alemanha deveu-se muito ao trabalho deste homem. Ele era um líder com grande capacidade de trabalho e muita visão.
Quem era Conradi? Ele fora um imigrante de origem germânica que mudara para os Estados Unidos quando bem jovem. Para garantir seu sustento ele foi trabalhar em uma fazenda pertencente a um fazendeiro adventista de Iowa. Encantado com a atmosfera religiosa daquele lar ele aceitou a mensagem com alegria. Deixando as lidas do campo, ele resolveu frequentar o curso de treinamento missionário oferecido pelo colégio de Battle Creek, no estado de Michigan. Ele queria trabalhar para Deus e começou seu ministério de pregação entre os imigrantes alemães que viviam na América do Norte.
Em 1886 ele foi enviado para a Europa para pregar a terceira mensagem angélica e apoiar o trabalho do pastor James Erzberger. Em seus primeiros tempos na Europa, Conradi foi convidado pelo missionário Gerhard Perk para fazer investidas missionárias entre os imigrantes alemães que viviam na Rússia. Eles passaram algum tempo na Criméia, Rússia. Mas após um batismo público e a organização de uma igreja adventista as autoridades locais levaram Conradi e Perk para a prisão. Um juiz local condenou os pregadores adventistas por ensinarem heresias judaicas. Eles ficaram presos por 40 dias. Graças a intervenção do embaixador americano em São Petersburgo, Conradi e Perk foram soltos. Eles continuaram o trabalho de pregar entre os colonos alemães que viviam às margens do rio Volga, mas gora com muito mais cautela. O tempo de prisão marcou a vida de Corandi para sempre. A partir daquela amarga experiência ele se tornou muito mais cauteloso nas suas investidas missionárias. Ele acabou perdendo a sua coragem de enfrentar as autoridades constituídas quando tinha a sua fé posta à prova.
Como comentamos, quando Conradi chega à Alemanha fazia oito anos que nenhum pastor adventista trabalhava na terra de Martinho Lutero. Ele trabalhou naquele país por 35 anos. Em 1888 ele organizou o trabalho da colportagem. No primeiro ano a literatura vinha dos Estados Unidos, mas no ano seguinte foi montada uma editora adventista em Hamburgo. Com o crescimento da obra de publicações naquele país, dez anos depois, em 1899, a sede da obra adventista foi estabelecida naquela cidade.
Naquele mesmo ano foi comprada uma propriedade rural perto de Magdeburgo. Ali foi estabelecido o Seminário Missionário de Friedensau. Para ajudar os estudantes a se auto-financiarem foi montada uma padaria, uma fábrica de alimentos saudáveis, uma carpintaria e uma serralheria na propriedade. Em 1900 já havia 2 mil adventistas na Alemanha, mais de três vezes o número da França, Suíça e Itália juntas.
Logo os jovens adventistas começaram a enfrentar o problema de serviço militar obrigatório na Alemanha. Mesmo com ameaça de morte eles se recusavam a serem recrutados. Muitos jovens passaram meses e anos na prisão, até que os médicos responsáveis pelo exame dos recrutas começaram a arranjar todas as desculpas possíveis para liberar os jovens adventistas de servir o exército.
Muitos pais foram presos por se recusavam a mandar seus filhos para assistirem aulas aos sábados. Apesar de não liberar as crianças de irem para a Escola, o governo alemão se comprometeu a permitir que as crianças adventistas estudassem a Bíblia no sábado em vez das lições regulares da escola.
Em 1903 Conradi foi eleito vice-presidente da Associação Geral, indicado especialmente para liderar a obra na Europa. Naquele ano G. W. Schubert começou a trabalhar em Colônia, na Alemanha. Conradi organizou uma campanha para vender o livro Parábolas de Jesus. O lucro da venda deste livro foi encaminhado para a Escola missionária que a igreja mantinha em Frindensau.
A obra na Alemanha progrediu graças ao trabalho dos colpotores. A editora da igreja, Hamburg Publishing Association, publicava livros e revistas em vários idiomas e logo se tornou a maior editora adventista fora dos Estados Unidos. A escola missionária de Friedensau evoluiu até tornar-se a atual Universidade Adventista da Alemanha.[5]
(Continua na próxima semana)