Eterno ou gerado?
- Em: Teologia
- Por: Alexandre de Araújo
Como vimos, para os dissidentes Cristo foi “gerado” por Deus, ou seja, em algum tempo no passado remoto Deus Pai teria dado origem a Jesus a partir de si mesmo. O texto bíblico mais citado para defender essa idéia é Sl 2.7, que diz: “Tu és Meu filho, hoje te gerei”. Como devemos entender essa passagem?
Essas palavras aparecem na Bíblia quatro vezes: Sl 2.7; At 13.33; Hb 1.5; 5.5.
Apesar do seu caráter messiânico, a base histórica do Salmo 2 é a coroação de Davi como rei.Em 2Samuel 7.14, o profeta Natã, ao falar da coroação do novo rei de Israel, afirmou, em nome de Deus: “Eu lhe serei Pai, e ele me será filho.” No dia de sua investidura real, o rei entrava em um novo relacionamento com Deus. Para os leitores israelitas, a expressão “Eu hoje te gerei” significava: “hoje tu tens sido ungido rei”. Ele estava sendo investigado de autoridade e dignidade real. Era assim que se entendia essa expressão naquele tempo.
Como os escritores do Novo Testamento interpretaram essa passagem? A primeira referência que vamos estudar está em At 13.33. Em um discurso feito na sinagoga de Antioquia Paulo defendeu que a ressurreição de Jesus dentre os mortos (At 13.30) estava prevista em profecias messiânicas (veja os vers. 34 e 35). Entre as profecias citadas estava a que se encontra no Sl 2.7. O texto de Atos diz: “Ele cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: ‘Tu és Meu Filho, eu hoje Te gerei’.” (vers. 33) Para Paulo, esse salmo se cumpriu na ressurreição de Jesus.
Outra referência ao Salmo 2 é encontrada em Hb 5.5, onde o autor da carta aos Hebreus afirma que “da mesma forma, Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote, mas Deus lhe disse: ‘Tu és meu Filho, eu hoje Te gerei’.” O escritor contextualiza essa passagem em relação à investidura de Jesus Cristo como Sumo Sacerdote no santuário celestial.
Por fim, a última referência está em Hb 1.5, “pois a qual dos anjos Deus alguma vez disse: “Tu és meu Filho; eu hoje Te gerei’?”. O sentido dessa aplicação, encontramos no versículo seguinte: “E ainda, quando Deus introduz o Primogênito no mundo” (Hb 1.6). Ou seja, o texto de Sl 2.7 teve cumprimento na encarnação do Verbo Divino.
Salmo 2.7 foi aplicado a cada nova fase do ministério de Cristo, quando Ele encontrava em uma nova relação com Deus. Portanto, a expressão “Eu hoje Te gerei” não deve ser entendida no sentido literal, mas sim figurado.
As Escrituras ensinam que Cristo é eterno, e não um ser criado, ou mesmo gerado, no sentido natural da palavra. Em Hb 13.8, o autor diz que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre.” Se não muda, portanto Ele é eterno. Sobre esse versículo, Esequias Soares comenta:
“Se o Filho passou a existir a partir do dia em que foi ‘criado’, como pode ser ele o mesmo ontem? Se antes da sua ‘criação’ ele não existia, podia ser ele o mesmo antes de existir? De maneira nenhuma. Em qualquer tempo de eternidade passa, ‘os tempos antes dos séculos’ (Tt 1.2), no passado remotíssimo, que a mente humana não consegue alcançar, ele ‘era o Verbo’, era o mesmo, o mesmo de hoje e de sempre, pois ele é imutável.”[i]
A eternidade de Cristo é ponto passivo nas Escrituras. Em Is 9.6 o Messias é chamado de “Pai eterno” (NVI, NTLH, BJ), ou como está em outras versões, “Pai da eternidade” (ARC, EC). Tanto uma forma como em outra destaca-se a existência eterna de Jesus, ou seja, nega-se que Ele teve origem ou algum tipo de começo (veja Mq 5.2). Outro aspecto desse versículo que reforça aquilo que estamos dizendo é o outro nome usado para se referir ao Messias: “Deus poderoso”. Quem era o Deus Poderoso para o profeta? No cap. 10.20 e 21 o profeta identifica o “Deus Poderoso” com Jeová. Lembre-se que não podem existir dois “deuses poderosos” (veja Is 45.22). Leia também Jr 32.18.
Em Is 43.10, Deus faz uma afirmação clara sobre sua singularidade: “Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim.” Qualquer um que alega ter surgido antes ou depois de Jeová é um falso “deus”. Ou Jesus é eterno ou Ele não é nada.
Em Cl 2.9, Paulo ensinou que “em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” Isso significa, que tudo o que Deus é Cristo é também de forma plena. Ele possui todos os atributos divinos: Cristo é onipotente (Mt 28.17), onisciente (Cl 2.3) e onipresença (Mt 18.20; 28.20). Além desses atributos, podemos incluir a eternidade. Esses atributos estão interligados e são interdependentes. Se Cristo não é eterno então não pode todas as coisas. Se ele não pode todas as coisas, então não pode estar em todos os lugares ou então Ele não tem como saber tudo. Se retirarmos algum atributo de Deus então Ele deixa de ser Deus. Assim é com Cristo também.