

Os espias voltaram sãos e salvos com a notícia: “Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão desmaiados diante de nós.” Fora-lhes declarado em Jericó: “Temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Seom e a Ogue, que estavam de além do Jordão, os quais destruístes. Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus e embaixo na Terra”. Josué 2:10, 11. {PP 352.4}
Foram expedidas ordens a fim de se aprontarem para o avanço. O povo devia preparar um suprimento de alimentos para três dias, e o exército devia estar de prontidão para a batalha. Todos concordaram cordialmente aos planos de seu líder, e asseguraram-lhe sua confiança e apoio: “Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente que o Senhor teu Deus seja contigo, como foi com Moisés”. Josué 1:16, 17. {PP 352.5}
Partindo de seu acampamento nos bosques de acácia de Sitim, a hoste desceu à margem do Jordão. Todos sabiam, entretanto, que sem auxílio divino não poderiam esperar fazer a passagem. Nesta época do ano, na primavera, a neve que derretia das montanhas havia de tal maneira avolumado o Jordão que o rio transbordou, tornando-se impossível atravessá-lo nos vaus usuais. Deus queria que a passagem de Israel no Jordão fosse miraculosa. Josué, por indicação divina, ordenou ao povo que se santificasse; deveriam remover seus pecados, e livrar-se de toda a impureza exterior; pois “amanhã”, disse ele, “fará o Senhor maravilhas no meio de vós”. A “arca do concerto” deveria abrir o caminho diante das hostes. Quando vissem o sinal da presença de Jeová, levado pelos sacerdotes, mudar-se de seu lugar para o centro do acampamento, e avançar em direção ao rio, deveriam então partir de seu lugar e segui-la. As circunstâncias da passagem foram minuciosamente descritas; e disse Josué: “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós, e que de todo lançará de diante de vós aos cananeus. [...] Eis que a arca do concerto do Senhor de toda a Terra passa o Jordão diante de vós”. Josué 3:5, 6, 10, 11. {PP 353.1}
No momento adequado, iniciou-se o movimento para a frente, indo a arca na vanguarda, aos ombros dos sacerdotes. Determinara-se ao povo ficar mais atrás, de modo que houvesse um espaço vazio de cerca de um quilômetro em redor da arca. Todos, com profundo interesse, estavam atentos ao avançarem os sacerdotes para a margem do Jordão. Viram-nos com a arca sagrada a moverem-se com firmeza para a frente, em direção à corrente encapelada, até que se mergulharam na água os pés dos portadores. Subitamente a correnteza estancou-se do lado de cima, enquanto a torrente continuou a fluir do lado de baixo; e o leito do rio ficou descoberto. {PP 353.2}
Ao mando divino os sacerdotes avançaram para o meio do canal, e ali ficaram de pé, enquanto descia a hoste inteira, e atravessava para o lado oposto. Assim impressionou as mentes de todo o Israel o fato de que o poder que deteve as águas do Jordão foi o mesmo que abrira o Mar Vermelho a seus pais, quarenta anos antes. Quando todo o povo havia passado, a arca mesma foi levada para a margem ocidental. Mal alcançara esta um lugar seguro, “e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco” (Josué 4:18), as águas represadas, sendo soltas, arremeteram-se para baixo, como uma inundação irresistível, no canal natural da torrente. {PP 353.3}
As gerações vindouras não deveriam ficar sem testemunho deste grande prodígio. Enquanto os sacerdotes que levavam a arca ainda se achavam no meio do Jordão, doze homens previamente escolhidos, um de cada tribo, apanharam cada um uma pedra do leito do rio onde os sacerdotes estavam em pé, e as levaram para a margem ocidental. Estas pedras deviam ser erguidas como um monumento no primeiro lugar de acampamento além do rio. Ordenava-se ao povo contar a seus filhos e filhos de seus filhos a história do livramento que Deus operara em prol deles, conforme disse Josué: “Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias”. Josué 4:24. {PP 353.4}
A influência deste prodígio, tanto sobre os hebreus como sobre seus inimigos, foi de grande importância. Foi uma segurança para Israel da presença e proteção contínua de Deus — prova de que Ele agiria em prol deles por intermédio de Josué como operara por meio de Moisés. Tal certeza era necessária para fortalecer-lhes o coração, dando eles início à conquista da terra — estupenda tarefa que havia esmorecido a fé de seus pais quarenta anos antes. O Senhor declarara a Josué antes da travessia: “Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo”. Josué 3:7. E cumpriu-se a promessa. “Naquele dia o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida”. Josué 4:14. {PP 354.1}
Essa demonstração do poder divino em favor de Israel destinava-se também a aumentar o temor com que eram olhados pelas nações circunjacentes, e assim preparar o caminho para o seu triunfo mais fácil e completo. Quando a notícia de que Deus detivera as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, chegou aos reis dos amorreus e dos cananeus, seus corações tremeram de medo. Os hebreus já haviam matado os cinco reis de Midiã, o poderoso Seom, rei dos amorreus, e Ogue de Basã, e agora a passagem pelo Jordão, dilatado e impetuoso, encheu de terror todas as nações circunvizinhas. Para os cananeus, para todo o Israel, e para o próprio Josué, prova inequívoca fora dada de que o Deus vivo, o Rei do Céu e da Terra, estava entre Seu povo, e não os deixaria nem os desampararia. {PP 354.2}
À pequena distância do Jordão os hebreus fizeram seu primeiro acampamento em Canaã. Ali Josué “circuncidou aos filhos de Israel”; e os filhos de Israel acamparam-se em Gilgal, e “celebraram a Páscoa”. Josué 5:3, 10, 9. A suspensão do rito da circuncisão desde a rebelião de Cades fora um testemunho constante a Israel de que seu concerto com Deus, do qual era aquela o símbolo designado, estivera invalidado. E a interrupção da Páscoa, memorial de seu livramento do Egito, fora prova do desagrado do Senhor pelo seu desejo de voltarem à terra do cativeiro. Agora, porém, estavam terminados os anos da rejeição. Mais uma vez Deus reconhecia a Israel como Seu povo, e restabeleceu-se o sinal do concerto. O rito da circuncisão foi levado a efeito em todo o povo nascido no deserto. E o Senhor declarou a Josué: “Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito” (Josué 5:9), e em alusão a isto o lugar de seu acampamento foi chamado Gilgal, que é “círculo” ou “roda”. {PP 354.3}
Nações gentílicas tinham vituperado ao Senhor e Seu povo porque os hebreus não puderam tomar posse de Canaã, como era sua expectativa, logo depois de saírem do Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque Israel vagueara tanto tempo no deserto, e zombeteiramente haviam declarado que o Deus dos hebreus não era capaz de os levar à Terra Prometida. O Senhor manifestara agora de maneira assinalada o Seu poder e favor, abrindo o Jordão diante de Seu povo; e os inimigos deste não mais os podiam exprobrar. {PP 355.1}
“No dia catorze do mês, à tarde”, a Páscoa foi celebrada nas planícies de Jericó. “E comeram do trigo da terra do ano antecedente, ao outro dia depois da Páscoa, pães asmos e espigas tostadas, no mesmo dia. E cessou o maná no dia seguinte depois que comeram do trigo da terra do ano antecedente; e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram das novidades da terra de Canaã”. Josué 5:9-12. Os longos anos de suas vagueações pelo deserto haviam-se findado. Os pés de Israel estavam finalmente a pisar na Terra Prometida. {PP 355.2}
Capítulo 113 — Pastores, ordem e organização
Alguns pastores têm caído no erro de pensar que não têm liberdade para falar, a menos que levantem a voz a um timbre agudo, falando alto e depressa. Eles devem entender que barulho e falar alto e depressa não são evidências da presença do poder de Deus. Não é a potência da voz que causa impressão duradoura. Os pastores devem ser estudantes da Bíblia e munir-se plenamente das razões de nossa fé e esperança. Então, com pleno controle da voz e das emoções, apresentá-las de tal modo que o povo possa calmamente pesar suas evidências e decidir sobre elas. E à medida que os pastores sentirem a força dos argumentos que apresentam em forma de solene e decisiva verdade, mostrarão zelo e fervor relativos ao conhecimento. O Espírito de Deus lhes santificará a alma e as verdades que apresentam a outros, “e o que regar também será regado”. Provérbios 11:25. {T1 645.1}
Vi que alguns de nossos pastores não sabem como preservar suas forças, de forma a poderem realizar grande quantidade de trabalho sem ficarem esgotados. Eles não devem orar tão alto e por tanto tempo a ponto de esgotar as energias. Não é necessário cansar a garganta e os pulmões em oração. Os ouvidos de Deus estão sempre atentos para ouvir as sinceras petições de Seus humildes servos. Ele não exige que cansem seus órgãos da fala ao se dirigirem a Ele. Perfeita confiança, firme segurança, a constante súplica pelas promessas de Deus, a fé singela de “que Ele existe, e que é galardoador dos que diligentemente “O buscam” (Hebreus 11:6) — eis o que importa para Deus. {T1 645.2}
Os pastores devem disciplinar-se e aprender como realizar maior volume de trabalho no breve período de que dispõem, e ainda ter considerável reserva de energias para que, se for requerido um esforço extra, tenham como dispor dela sem prejuízo para si mesmos. Por vezes é requerido que apliquem toda as energias que possuem em determinado ponto, e se eles já esgotaram previamente sua reserva de energias, e não têm condições de fazer frente a essa demanda, tudo quanto fizeram é perdido. Às vezes será preciso empregar todas as forças físicas e mentais para sustentar os mais fortes argumentos, para dispor as evidências na mais clara luz e apresentá-las ao povo da maneira mais enfática, dirigindo-lhes os mais fortes apelos. Quando as pessoas estão a ponto de abandonar as fileiras do inimigo e vir para o lado do Senhor, a batalha se torna mais severa e cruel. Satanás e seus anjos não toleram que alguém que tenha servido sob a bandeira das trevas, tome posição sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. {T1 645.3}
Foram-me mostrados exércitos opostos que haviam travado penoso combate. A vitória não fora conquistada por nenhum dos lados. Por fim os fiéis reconhecem que sua força e vigor estão-se dissipando e que serão incapazes de silenciar os inimigos, a menos que os ataquem e se apoderem de suas armas de guerra. É então que, com o risco da própria vida, reúnem todas as suas forças, e investem contra o inimigo. É uma batalha terrível, mas a vitória é conquistada e a fortaleza tomada. Se, no momento crítico, o exército estivesse tão exausto que lhe fosse impossível lançar a última carga e conquistar as fortificações inimigas, a batalha que se estendeu por dias, semanas e mesmo meses de lutas estaria perdida, e muitas vidas sacrificadas inutilmente. {T1 646.1}
Uma obra semelhante está perante nós. Muitos estão convencidos de que temos a verdade e, todavia, permanecem presos como com grilhões de ferro. Não ousam enfrentar as conseqüências de assumir uma posição ao lado da verdade. Muitos estão no vale da decisão, onde precisam ouvir apelos especiais, diretos e enfáticos, para que deponham suas armas de guerra e tomem posição ao lado do Senhor. Justamente nesse período crítico, Satanás os prende com fortíssimos laços. Se os servos de Deus estão todos exaustos porque esgotaram sua reserva física e mental, acham que nada mais pode ser feito e freqüentemente abandonam inteiramente o campo para iniciar atividades em outro lugar. Meios, tempo e trabalho, tudo ou quase tudo foi gasto sem qualquer resultado. Sim, é pior do que se nunca tivessem começado o trabalho naquele lugar, pois após o povo ter sido profundamente convencido pelo Espírito de Deus e levado ao ponto de decisão, e ser deixado a perder o interesse, e tomar decisão contrária às evidências, não pode outra vez tão facilmente ser levado a interessar-se no assunto. Terão, em muitos casos, tomado sua decisão final. {T1 646.2}
Se os pastores preservarem suas forças para, exatamente no momento em que tudo parecer desenrolar-se da maneira mais difícil, fazerem os mais diligentes esforços, os mais vigorosos apelos, os mais veementes pedidos e, como aguerridos soldados, no momento crítico, investirem contra o inimigo, obterão a vitória. As pessoas serão fortalecidas para romper as algemas de Satanás e fazer suas decisões para a vida eterna. O trabalho bem dirigido e no tempo certo tornará bem-sucedidos os esforços longamente desenvolvidos. Esse trabalho, mesmo se deixado por uns poucos dias, será um completo fracasso em muitos casos. Os pastores precisam dedicar-se ao trabalho como missionários e aprender como dirigir esforços a fim de obter a máxima vantagem. {T1 647.1}
Alguns pastores, no começo de uma série de reuniões, tornam-se muito zelosos e assumem encargos que Deus não lhes destinou, consomem assim suas forças cantando, orando e falando longamente e em alto volume. Esgotam-se e precisam ir para casa a fim de descansar. O que foi realizado através desse esforço? Literalmente nada. Os obreiros tinham entusiasmo e “zelo..., mas não com entendimento”. Romanos 10:2. Não demonstraram sábia estratégia. Andaram sobre a carruagem dos sentimentos, mas não houve nenhuma vitória sobre o inimigo. Não penetraram e conquistaram sua fortaleza. {T1 647.2}
Foi-me mostrado que os ministros de Cristo devem disciplinar-se para a guerra. Grande sabedoria é requerida no comando da obra de Deus, muito mais do que a que se exige de generais envolvidos em batalhas. Os ministros de Deus estão empenhados numa grande obra. Estão combatendo não meramente contra homens, mas contra Satanás e seus anjos. Requer-se aqui um sábio comando. Devem eles tornar-se estudantes da Bíblia e dedicar-se completamente à obra. Quando iniciarem o trabalho num lugar, devem ser capazes de dar as razões de nossa fé, não de maneira rude nem turbulenta, mas com mansidão e temor. O poder convincente está nos fortes argumentos apresentados na mansidão e temor de Deus. {T1 647.3}
Talentosos ministros de Cristo são requeridos na obra para estes últimos dias de perigo. Sejam eles poderosos em palavra e doutrina, familiarizados com as Escrituras e sabedores das razões de nossa fé. Minha atenção foi dirigida para estes versículos, cujo significado não tem sido compreendido por alguns pastores: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” 1 Pedro 3:15. “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossences 4:6. “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos.” 2 Timóteo 2:24-26. {T1 648.1}
Requer-se que o homem de Deus, o ministro de Cristo, “seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra.” 2 Timóteo 3:17. Um pastor pomposo, cheio de dignidade própria, não é necessário nesta boa obra. É necessário, porém, decoro no púlpito. Um ministro do evangelho não deveria ser descuidado com sua atitude. Se é representante de Cristo, seu comportamento, atitude e gestos devem ser de tal caráter que não firam os espectadores. Devem os pastores possuir refinamento. Devem descartar todas as maneiras, gestos e atitudes descorteses, promovendo a humilde dignidade da posição. Cumpre-lhes vestir-se de modo coerente com a dignidade de sua posição. Sua linguagem deve em todos os sentidos ser solene e bem escolhida. Foi-me mostrado que é errado usar expressões grosseiras e irreverentes, contar anedotas para divertir, ou apresentar ilustrações cômicas para produzir riso. Sarcasmo ou brincadeiras com as palavras de um oponente estão completamente fora do método de Deus. Os pastores não devem achar que não podem melhorar sua voz e maneiras. Muito pode ser feito. A voz pode ser cultivada de tal maneira que o falar longamente não prejudique os órgãos vocais. {T1 648.2}
Os pastores devem ser amantes da ordem e praticantes da autodisciplina. Então poderão com êxito disciplinar a igreja de Deus e ensiná-la a trabalhar em harmonia, semelhante a uma companhia de soldados bem preparada. Se a disciplina e a ordem são necessárias para uma ação bem-sucedida no campo de batalha, elas são tanto mais requeridas na luta em que estamos empenhados, assim quanto maior é o nosso objetivo a ser alcançado, pois no conflito em que estamos envolvidos, interesses eternos estão em jogo. {T1 649.1}
Os anjos trabalham harmoniosamente. Perfeita ordem caracteriza todos os seus movimentos. Quanto mais atentamente imitarmos a harmonia e a ordem da multidão angélica, tanto mais bem-sucedidos serão os esforços desses agentes celestiais em nosso favor. Se não virmos necessidade de ação harmoniosa, e formos desordenados, indisciplinados e desorganizados em nosso modo de agir, os anjos, que são totalmente organizados e se movem em perfeita ordem, não conseguem agir com sucesso em nosso favor. Eles se afastam entristecidos, pois não estão autorizados a abençoar confusão, desordem e desorganização. Todos os que desejarem a cooperação dos mensageiros celestiais, devem trabalhar em uníssono com eles. Os que possuem a unção do alto desejarão em todos os seus esforços estimular a ordem, a disciplina, a unidade de ação, e então os anjos de Deus podem cooperar com eles. Mas nunca, nunca esses mensageiros celestiais darão seu endosso à irregularidade, desorganização e desordem. Todos esses males são resultado dos esforços de Satanás para enfraquecer nossas forças, destruir o ânimo e impedir a ação bem-sucedida. {T1 649.2}
Satanás bem sabe que o sucesso só pode acompanhar a ação ordeira e harmoniosa. Sabe que tudo quanto se acha ligado ao Céu está em perfeita ordem, que sujeição e perfeita disciplina marcam os movimentos da multidão angélica. É seu estudado esforço levar os professos cristãos o mais distante possível dos arranjos feitos pelo Céu. Portanto, ele engana mesmo o professo povo de Deus, e o faz crer que a ordem e a disciplina são inimigas da espiritualidade; que a única segurança para eles é deixar que cada um siga a própria conduta e aja independentemente do corpo de crentes, que está unido e trabalhando para estabelecer disciplina e harmonia de ação. Todos os esforços feitos para estabelecer ordem são considerados perigosos, uma restrição da justa liberdade e, conseqüentemente, devem ser temidos como papismo. Essas pessoas enganadas consideram virtude gabar-se de sua liberdade de pensar e agir independentemente. Não aceitarão nada do que qualquer homem diz. Não se submetem a nenhum homem. Foi-me mostrado que é obra especial de Satanás levar os homens a achar que é o plano de Deus que eles se tornem auto-suficientes e escolham a própria conduta, independentemente de seus irmãos. {T1 650.1}
Minha atenção foi dirigida para os filhos de Israel. Logo depois de deixarem o Egito, estavam organizados e mais plenamente disciplinados. Deus havia, por Sua especial providência, qualificado Moisés para permanecer à testa dos exércitos de Israel. Ele havia sido um poderoso guerreiro no comando dos exércitos egípcios, jamais sobrepujado por nenhum outro em dom de comando. O Senhor não permitiu que Seu santo tabernáculo fosse transportado descuidadamente por qualquer tribo. Foi tão minucioso em especificar a ordem que deveria ser observada no transporte da arca, quanto em designar uma família específica da tribo dos levitas para carregá-la. Quando era para o bem do povo e para a glória de Deus que erguessem as tendas em determinado lugar, Deus manifestava Sua vontade fazendo com que a coluna de nuvem repousasse diretamente sobre o tabernáculo, onde permanecia até que novamente lhes desse ordem para partir. Em todas as suas jornadas lhes era requerido observar perfeita ordem. Cada tribo conduzia um estandarte com o emblema da casa de seu pai, e cada tribo devia acampar sob a própria bandeira. Quando a arca era movimentada, os exércitos se deslocavam e as diferentes tribos marchavam em ordem sob seus pendões. Os levitas foram designados por Deus como a tribo que deveria levar a arca. Moisés e Arão marchavam logo adiante da arca e os filhos de Arão seguiam próximo a eles, cada um com suas trombetas. Eles recebiam instruções de Moisés, as quais deviam transmitir ao povo através do toque das trombetas. Estes instrumentos produziam sons especiais que o povo compreendia e atendia, movimentando-se de acordo com eles. {T1 650.2}
Os trombeteiros tocavam um sinal especial para chamar a atenção do povo, então todos ficavam atentos e obedeciam ao som emitido. Não havia confusão de sons no toque das trombetas, portanto não havia desculpas para confusão nos movimentos. O comandante de cada companhia dava instruções definidas sobre os movimentos que deviam fazer, e ninguém que prestasse atenção ignorava o que fazer. Se alguém falhasse no cumprimento das exigências dadas pelo Senhor a Moisés e por Moisés ao povo, era punido com a morte. Ninguém podia alegar ignorância sobre a natureza das ordens, pois isso apenas evidenciaria desconhecimento voluntário e receberia a justa punição pela transgressão. Se alguém desconhecesse a vontade de Deus concernente a si, seria por culpa própria. Tinha as mesmas oportunidades de obter conhecimento como as outras pessoas, portanto, seu pecado de desconhecer, de não entender, era tão grande à vista de Deus como se tivesse ouvido e depois transgredido. {T1 651.1}
O Senhor designou uma família especial da tribo de Levi para transportar a arca. Outros levitas foram especialmente apontados por Deus para transportar o tabernáculo, seus móveis e utensílios, e também armá-lo e desarmá-lo. E se algum homem, por curiosidade ou falta de ordem, saísse de seu lugar e tocasse qualquer parte do santuário ou sua mobília, ou mesmo se aproximasse de algum trabalhador ali, sofreria a morte. Deus não permitia que Seu santo tabernáculo fosse transportado, montado e desmontado indiscriminadamente por qualquer tribo que escolhesse esse trabalho, mas pessoas eram escolhidas, as quais sabiam apreciar o caráter sagrado da obra na qual estavam empenhadas. Esses homens apontados por Deus eram instruídos a apresentar ao povo a especial santidade da arca e tudo quanto a ela pertencia, para que não olhassem para essas coisas sem compreender-lhes a santidade, e assim fossem apartados de Israel. Todas as coisas pertencentes ao lugar santíssimo tinham de ser olhadas com reverência. {T1 652.1}
As viagens dos filhos de Israel foram fielmente descritas. O livramento que o Senhor realizou em seu favor, sua perfeita organização e especial ordem, seu pecado de murmuração contra Moisés e desse modo contra Deus, suas transgressões, rebeliões, punições; seus cadáveres espalhados no deserto por causa da má vontade em submeter-se aos sábios desígnios de Deus, todo esse quadro fiel nos é mostrado como advertência, a fim de que não sigamos seu exemplo de desobediência e fracassemos como eles. {T1 652.2}
“Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil. E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia.” 1 Coríntios 10:5-12. Deixou o Senhor de ser um Deus de ordem? Não. Ele é o mesmo tanto na presente dispensação como na passada. Diz Paulo: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz.” 1 Coríntios 14:33. Ele é tão específico hoje como então. Deseja que aprendamos lições de ordem e organização a partir da perfeita ordem instituída nos dias de Moisés para benefício dos filhos de Israel. {T1 652.3}
Capítulo 114 — Trabalhos adicionais
Experiências de 23 de Dezembro de 1867 a 1 de Fevereiro de 1868
Farei agora um resumo dos incidentes ocorridos, e talvez não possa dar melhor idéia de nossos trabalhos até o tempo do encontro de Vermont, do que referindo aqui o teor de uma carta que escrevi a nosso filho em Battle Creek, em 27 de Dezembro de 1867: {T1 653.1}
“Meu querido filho Edson: Estou agora assentada à escrivaninha do irmão D. T. Bourdeau, em West Enosburgh, Vermont. Após o encerramento de nosso encontro em Topsham, Maine, estava excessivamente cansada. Enquanto arrumava minha mala, quase desmaiei de cansaço. O último trabalho que realizei ali foi convocar a família do irmão A e ter uma entrevista especial com eles. Falei-lhes palavras de exortação e conforto, e também de correção e conselho a um de seus membros. Tudo que eu disse foi plenamente aceito e seguido de confissão, pranto e grande alívio ao casal A. Essa me é uma obra penosa e muito cansativa. {T1 653.2}
“Após já estarmos no vagão, deitei e descansei por cerca de uma hora. Tínhamos um compromisso naquela noite, em Westbrook, Maine, para reunirmos com os irmãos de Portland e arredores. Ficamos hospedados no lar da bondosa família do irmão Martin. Eu não estava conseguindo ficar sentada, mas, tendo-me sido solicitado que estivesse na reunião da noite, fui à escola sentindo que não tinha forças para erguer-me e falar ao povo. O prédio estava repleto de ouvintes interessados. O irmão Andrews iniciou a reunião e falou pouco tempo. Seu pai, em seguida, fez algumas observações. Então eu me levantei, e tendo dito umas poucas palavras, senti-me revigorada. Todas as minhas fraquezas pareciam haver-me deixado, e falei durante quase uma hora com perfeita liberdade. Senti inexprimível gratidão por esse auxílio da parte de Deus, justamente no tempo que mais necessitava. Na noite de quarta-feira, falei com desembaraço por quase duas horas sobre as reformas de saúde e do vestuário. Ter minhas forças assim tão inesperadamente renovadas, quando me sentira completamente esgotada antes dessas duas reuniões, foi-me motivo de grande animação. {T1 653.3}
Visões subseqüentes
Em 1847, enquanto os irmãos estavam reunidos no sábado em Topsham, Maine, o Senhor deu-me a seguinte visão: {PE 32.1}
Sentíamos um incomum espírito de oração. E ao orarmos o Espírito Santo desceu sobre nós. Estávamos muito felizes. Logo perdi de vista as coisas terrestres e fui arrebatada em visão da glória de Deus. Vi um anjo que voava ligeiro para mim. Rápido levou-me da Terra para a Cidade Santa. Na cidade vi um templo no qual entrei. Passei por uma porta antes de chegar ao primeiro véu. Este véu foi erguido e eu entrei no lugar santo. Ali vi o altar de incenso, o castiçal com sete lâmpadas e a mesa com os pães da proposição. Depois de ter eu contemplado a glória do lugar santo, Jesus levantou o segundo véu e eu passei para o santo dos santos. {PE 32.2}
No lugar santíssimo vi uma arca, cujo alto e lados eram do mais puro ouro. Em cada extremidade da arca havia um querubim com suas asas estendidas sobre ela. Tinham os rostos voltados um para o outro, e olhavam para baixo. Entre os anjos estava um incensário de ouro. Sobre a arca, onde estavam os anjos, havia o brilho de excelente glória, como se fora a glória do trono da habitação de Deus. Jesus estava junto à arca, e ao subirem a Ele as orações dos santos, a fumaça do incenso subia, e Ele oferecia suas orações ao Pai com o fumo do incenso. Na arca estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de Arão que florescera e as tábuas de pedra que se fechavam como um livro. Jesus abriu-as, e eu vi os Dez Mandamentos nelas escritos com o dedo de Deus. Numa das tábuas havia quatro mandamentos e na outra seis. Os quatro da primeira tábua eram mais brilhantes que os seis da outra. Mas o quarto, o mandamento do sábado, brilhava mais que os outros; pois o sábado foi separado para ser guardado em honra do santo nome de Deus. O santo sábado tinha aparência gloriosa — um halo de glória o circundava. Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se tivesse sido, os outros nove mandamentos também o teriam, e estaríamos na liberdade de transgredi-los a todos, bem como o quarto mandamento. Vi que Deus não havia mudado o sábado, pois Ele jamais muda. Mas o papa tinha-o mudado do sétimo para o primeiro dia da semana; pois ele devia mudar os tempos e as leis. {PE 32.3}